Título: Uma especialista em canonizações
Autor: Kazuo Inoue
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2006, Vida&, p. A25

Freira da ordem de Madre Paulina, que conseguiu canonizar em tempo recorde, acaba de fazer o segundo santo, Frei Galvão

Em apenas 15 anos, a freira Célia Cadorin, de 78, conquistou o que ninguém na maior nação católica tinha conseguido em cinco séculos: o reconhecimento, pela Igreja, de dois santos brasileiros, Madre Paulina e Frei Galvão. Na quarta-feira, ela telefonou ao Mosteiro da Luz, em São Paulo, para dar a notícia. Com a aceitação pelo Vaticano de um segundo milagre atribuído a Frei Galvão, ele será sagrado santo em questão de meses. Graças ao trabalho dela, que se tornou especialista em canonização desde a madre. Hoje orienta cerca de 10 entre mais de 60 casos de candidatos brasileiros ao altar. De Roma, concedeu por telefone esta entrevista.

Como começou a trabalhar nisso?

Era secretária do postulador da causa da madre, que adoeceu e morreu em 1994. Assumi o posto e me mudei para Roma. Quando ela foi beatificada, em 1991, d. Paulo (Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo) me perguntou se eu aceitava a causa do frei. Levei dois meses para me pronunciar. Não ia entrar em beco sem saída, porque essa causa estava parada desde 1938.

Por que a causa demorou tanto?

Nós moramos muito longe (de Roma) e as pessoas têm medo da dificuldade do processo. Faltou talvez interesse e dinheiro. Mas dinheiro Deus manda. Quem faz a causa andar são os pequenos devotos, com suas doações de R$ 1.

Quanto custou a causa do frei?

Entre estadia, viagens e tipografia, a beatificação custou uns US$ 95 mil. A canonização vai custar outros US$ 60 mil.

Que milagre o fez santo?

Não posso falar. Desde abril de 2004, quando saiu a beatificação, nos enviaram 5.470 graças muito lindas. Selecionei 5 ou 6 mais bonitas e vim estudar os casos no Brasil. E consultei um médico do Vaticano que sempre me dá assistência sobre qual tem mais chance.

Qual o critério para a escolha?

Tem de ser uma graça que acontece assim: 'tcham'. Não pode ser uma doença que vai melhorando . Uma cura instantânea, que se mantenha e seja perfeita. Algo que a ciência não consiga explicar hoje.