Título: Brasileiros em Ramallah estão indecisos
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2006, Internacional, p. A20

Corrupção e aumento da violência abala fidelidade de eleitores da Fatah

O Brasil estará presente nas eleições palestinas. Uma delegação de oito pessoas, liderada pelo embaixador extraordinário para o Oriente Médio, Affonso Celso de Ouro-Preto, se unirá aos mais de 800 observadores internacionais que terão a difícil tarefa de monitorar as eleições. Outros brasileiros vão participar votando.

O motorista gaúcho Ghande Judeh, de 33 anos, nascido em Uruguaiana (RS), é um deles. Ghande, que mora há 10 anos em Betúnia, adjacente a Ramallah, está indeciso. Deixará a escolha para a última hora, assim como boa parte dos cerca de 2 mil palestinos de origem brasileira que moram na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.

"Não estou entusiasmado com nenhum candidato", diz Ghande, que está desiludido com os políticos locais. No ano passado, ele até que estava otimista quando votou para eleger Mahmud Abbas para a presidência. Agora, após as denúncias de corrupção contra o partido de Abbas, a Fatah, e do aumento de incidentes violentos cometidos por facções armadas, ele mudou. "Estou muito mais pessimista. Não vejo saída para essa situação e fico sem vontade de votar", admite.

O empresário Ibrahim Mahmoud, de 35 anos, que trocou São Paulo por Ramallah há 6 anos, também está indeciso. Eleitor leal da Fatah, dessa vez ele decidiu prestar atenção na campanha eleitoral para escolher o melhor candidato: "Estou em dúvida. A Fatah está corroída pela corrupção." Mahmoud reclama principalmente do caos na segurança que tomou conta dos territórios palestinos nos últimos quatro meses.

A luta de poder entre as várias facções armadas transformou a vida da população num inferno. Tiroteios, seqüestros e invasões de prédios públicos se tornaram comuns, principalmente na Faixa de Gaza. Mas em Ramallah a situação não é melhor. "Quem tem arma acha que pode fazer o que quiser. A impunidade é geral", diz Mahmoud.

Já a dona de casa gaúcha Clair Mussa, de 57 anos, natural de Ramos (RS), já escolheu candidato. Vai votar em seu médico, candidato da Fatah. "Não voto pelo partido. Voto na pessoa. Vou votar no dr. Khaled porque ele é muito querido, honesto e digno", diz. Clair, que mora na Cisjordânia há 22 anos, não tem nada contra os candidatos do Hamas. "O Hamas luta pela liberdade. De terrorista não tem nada. Terroristas são os do lado de lá", garante.