Título: Derrotado na última eleição, Cavaco Silva volta com imagem de tecnocrata
Autor: Jair Rattner
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2006, Internacional, p. A14

Mesmo em comícios, o tom e a forma de falar do candidato à presidência Aníbal Cavaco Silva revelam por que ele ganhou o apelido de "professor". Alto e magro, tem um uma forma direta e quase seca de abordar os temas, explicando tudo com voz levemente anasalada.

Aos 66 anos, Cavaco Silva é o exemplo de uma pessoa que subiu pelo próprio esforço. Vindo de uma família de camponeses abastados do Algarve, formou-se em Finanças em Lisboa e fez doutorado na Universidade de York, Inglaterra. Sua tese discutia os efeitos da dívida pública. Nesta campanha, Cavaco Silva tentou aparecer como uma pessoa não vinculada a partidos, apesar de ter sido por dez anos primeiro-ministro ligado ao Partido Social-Democrata, de centro-direita.

Ele procura construir a imagem de tecnocrata, em oposição aos políticos profissionais. No entanto, está no centro da política portuguesa desde 1985, quando participou da articulação que derrubou a liderança partidária e pôs fim ao governo de coalizão com o Partido Socialista. Naquele ano, foi eleito para dirigir o PSD. Começou então um mito de que a política em sua vida era apenas um acaso. Na história oficial do partido, ele só foi ao congresso para amaciar seu carro novo e acabou eleito presidente do PSD.

Poucos meses depois que assumiu o poder, Portugal entrou para a Comunidade Européia. O país passou a beneficiar-se de um fluxo de investimentos para acompanhar o desenvolvimento dos parceiros europeus, o que permitiu um crescimento econômico sem precedentes. Seu governo é conhecido como o da construção de estradas e obras de infra-estrutura que mudaram a face de Portugal.

Em 1995, depois de meses sem revelar quais eram os seus planos, decidiu concorrer à presidência. Foi derrotado por Jorge Sampaio, que permaneceu no cargo por dois mandatos de cinco anos.