Título: Marinha cobra recursos para se reaparelhar
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2006, Nacional, p. A13

Comandante propõe plano de US$ 2,57 bi, que visa a retomar também projetos como o da pesquisa nuclear

O comandante da Marinha, almirante Roberto de Carvalho, queixa-se de que seu orçamento "está muito achatado". Ele diz que isso tem impedido a Força de investir em reaparelhamento e tirar da estagnação projetos estratégicos para o País como o da pesquisa nuclear - que deu ao Brasil o controle do ciclo do urânio - ou o da construção de submarinos convencionais de ataque.

O almirante apresentou à Casa Civil da Presidência da República um programa de reequipamento da Marinha que exigiria, ao longo de 20 anos, gastos estimados em US$ 2,57 bilhões (R$ 6,12 bilhões). Para dar a largada no processo, seria necessária a liberação de R$ 600 milhões ainda este ano.

Cuidadoso, Carvalho diz que "os equipamentos da Marinha se apresentam de forma não desejável". E explica: "Os meios da Marinha têm de ser mantidos, atualizados e substituídos - para tudo isso, precisamos de recursos. À medida que não há dinheiro para fazer isso, aumenta a nossa vulnerabilidade."

SUBMARINO

A prioridade da Força, caso o programa de reequipamento seja aprovado, é trabalhar justamente na construção de novos submarinos. "Não podemos parar, senão todo o conhecimento acumulado - uma tecnologia rara, que pouquíssimos países controlam - será perdido", afirma o almirante.

A falta de investimentos tem acelerado a aposentadoria de embarcações da Marinha. Nos últimos dois anos, foram antecipadas as baixas de nove navios e seis aviões, por causa da degradação e da obsolescência. De 1999 para cá, 21 navios e 6 aeronaves deixaram de ser usados pela Força. Até 2025, devem ser desativados 87% dos navios hoje em uso. "É como se a Marinha estivesse desaparecendo", lamenta Carvalho.

Uma das principais preocupações envolve o futuro do programa nuclear que, segundo ele, "está, hoje, em estado vegetativo". Os recursos repassados para o projeto são suficientes apenas para manutenção e pagamento de pessoal: R$ 40 milhões por ano. "É o corte máximo possível. Para crescer são necessários R$ 130 milhões por ano durante oito anos."

É preciso concluir duas usinas de enriquecimento de urânio e um laboratório de geração nucleoelétrica. Com eles, a Marinha poderia gerar energia, dessalinizar água do mar, criar propulsores navais e suprir a demanda de radioisótopos para uso em procedimentos médicos.

REAJUSTE

Carvalho acredita que o governo federal vai cumprir a promessa de pagar a última etapa do aumento dos militares, de 10%. Há dúvidas, porque o remanescente da correção não está assegurado na medida provisória que conferiu a primeira parcela, de 13%. Mas o comandante está confiante: "Penso que sairão os 10% que faltam para completar os 33% esperados desde 2004. O governo cumprirá a palavra. Não tenho por que achar que não vai sair a segunda parcela."