Título: Ministros do PT vão catequizar radicais petistas
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2006, Nacional, p. A11

Governo monta força-tarefa para se defender no partido e evitar ruptura em megarreunião em abril

O governo começa a se movimentar para "catequizar" o PT. Preocupados com as estocadas do partido na direção do Planalto, principalmente em relação à política econômica e num ano eleitoral, ministros petistas formarão uma espécie de tropa de choque na próxima reunião do Diretório Nacional, marcada para março. Antonio Palocci (Fazenda), Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria-Geral) e Jaques Wagner (Relações Institucionais) já incumbiram auxiliares de levantar dados e produzir material para defender as "conquistas" do governo dentro do PT.

"Nem o PT sabe o que nós estamos fazendo", queixou-se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em jantar com senadores do PMDB, na quinta-feira. Assustado com a resolução produzida no fim do ano passado pela cúpula de seu partido - pregando mudanças na economia e a imediata redução do superávit primário -, Lula está apreensivo com a profusão de idéias radicais que ameaçam agitar o 13º Encontro Nacional. Não se trata de evento qualquer: agendada para 28 a 30 de abril, em São Paulo, a megarreunião do PT pretende dar as diretrizes de seu programa à reeleição.

Para não ser pego desprevenido e acertar discurso de campanha que neutralize ataques da oposição - principalmente vindos do PSDB -, o Planalto começará o trabalho de catequese logo depois do carnaval, mesmo se até lá Lula não houver anunciado a candidatura.

"Não podemos impor ao presidente um programa de oposição nem escrito em javanês", provocou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. "O PT precisa entender que somos governo e nossa plataforma para a reeleição do presidente tem de ser a defesa de seu mandato, as coisas boas."

No diagnóstico de Bernardo, com exceção da ruptura com o modelo econômico, Lula "fez tudo" o que o PT pregou em seu último encontro nacional, em 2001, na cidade de Olinda (PE). Batizado de A Ruptura Necessária, o polêmico texto acabou revogado seis meses depois, em junho de 2002, pela Carta ao Povo Brasileiro, que tranqüilizou o mercado na campanha de Lula.

"Encerramos um ciclo com o Fundo Monetário Internacional e ninguém no PT menciona isso", lamentou Bernardo, antigo militante petista. "O pessoal tem um fetiche: só sabe falar de superávit. Acredito que os problemas do PT não estão exatamente na política econômica", emendou, numa referência à enorme crise na seara política. Do atual time de 33 ministros, 16 são filiados ao PT.

Em reuniões reservadas, Palocci também disse não entender as várias críticas que a proposta de ajuste fiscal de longo prazo receberam no PT e até no governo, já que o coro dos descontentes, neste caso, foi puxado por Dilma. "Nosso programa falava em apagão do planejamento (no governo FHC)", lembrou Palocci. "Com o ajuste fiscal, o que queremos é planejar o Brasil, ter perspectivas de longo prazo."

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), afirmou que a força-tarefa do governo no partido "não é um enquadramento". Para tentar reverter essa impressão, Berzoini se antecipou e pediu aos ministros petistas reunião com a cúpula do PT, em março, para definir o tom do discurso da campanha de Lula. O pedido coincidiu com a movimentação que já estava em curso no Planalto.

"O PT deve defender o governo, mas o governo não tem de ficar ofendido quando o partido pede algumas correções na política econômica. O importante, agora, é alinhar politicamente o que cada um vai fazer na campanha", argumentou Berzoini.

Embora Lula não esconda o incômodo com as críticas de dirigentes do PT a sua gestão, o ministro Jaques Wagner tenta pôr panos quentes na contenda. "A verdade é que a gente se comunica mal", afirmou. "É óbvio que, se o partido do presidente não tem dimensão do conjunto da obra, como vai entrar na campanha?"