Título: Senado terá anexo 3, de R$ 130 milhões e 83 mil m2
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2006, Nacional, p. A8

Sob sigilo, pois teme críticas, mas sem espaço para 3,5 mil servidores, direção da Casa abre licitação em março de obra assinada por Niemeyer

Sem alarde, o Senado se prepara para adotar uma medida que promete causar polêmica. Na contramão das críticas pelos gastos com a convocação extraordinária do Congresso Nacional, a direção do Senado resolveu investir cerca de R$ 130 milhões na construção do anexo 3 da Casa.

Trata-se de um complexo com 83 mil metros quadrados, composto por um moderno prédio de 12 andares e um auditório para 600 pessoas.

O sinal verde para as obras partiu do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no fim do ano passado. Os projetos da edificação já estão prontos e foram feitos pelo escritório do arquiteto Oscar Niemeyer. A licitação para o complexo anda a passos rápidos: o edital deverá ser publicado em março.

O projeto está sendo tocado sob sigilo pelos senadores. Não é difícil entender o motivo. A direção do Senado avalia que a grandiosidade dos números é proporcional à dimensão da encrenca. Chamuscado por parlamentares mensaleiros e pelos salários extras da convocação extraordinária, o Congresso passa por uma das mais sérias crises de credibilidade de seus quase 200 anos.

Nesse contexto, o anúncio de uma obra para acomodar melhor os senadores e os funcionários da Casa causa temores justificados. "Sabemos que a imprensa vai bater, mas é uma obra necessária, uma reivindicação antiga dos servidores", defende o diretor-geral do Senado, Agaciel da Silva Maia.

Segundo o diretor, a obra está prevista desde 1984, mas nunca começou exatamente em razão do temor dos seguidos presidentes do Senado, que sempre nutriram receio da reação da opinião pública. "Desta vez, fizemos uma discussão e houve um consenso sobre a necessidade de tocarmos para a frente este projeto", conta.

NO LIMITE

Agaciel explica que falta espaço para alojar os 3.500 servidores e 81 senadores. "Estamos trabalhando no limite. A liderança da minoria e órgãos como a segunda e a quarta secretaria da Mesa trabalham em condições precárias", assegura o diretor.

O novo prédio será construído em um terreno do Senado ao fundo da Esplanada dos Ministérios e terá uma passarela que vai ligá-lo à sede da Casa.

Hoje, o Senado dispõe de um edifício-sede e dois anexos. O prédio principal é ocupado pelo plenário, pelo gabinete do presidente e pela secretaria-geral da Mesa. O anexo 1, um prédio branco de 27 andares, abriga gabinetes de senadores, lideranças de partidos e toda a administração da Casa. O anexo 2 também acomoda gabinetes e lideranças, além de alojar as comissões técnicas. As Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), por exemplo, funcionam nesse anexo.

Funcionários do Senado reclamam que o maior problema de espaço está nas comissões. De fato, há consultores que não dispõem de mesa própria.

BATCAVERNA

As CPIs em andamento também sofrem. Os documentos ligados às investigações do valerioduto, escândalos dos bingos, que não param de chegar há sete meses, estão sendo todos amontoados no subsolo, numa sala apelidada de "batcaverna". No local, uma referência ao esconderijo secreto do herói Batman, ocorrem reuniões supostamente urgentes e sigilosas dos parlamentares das CPIs e é onde jornalistas fazem plantão em busca de notícia.

A idéia da direção-geral do Senado é deslocar para o novo prédio as comissões, alguns postos administrativos, a estrutura de comunicação, o museu da Casa e os bancos. Assim, o prédio principal e o anexo abrigariam apenas os gabinetes e os órgãos da Mesa Diretora.

O arquiteto Carlos Magalhães, responsável pelo escritório de Niemeyer em Brasília, está empolgado com a obra. "Finalmente estamos tirando do papel um projeto que está previsto no plano original de Brasília", comemora.

Ele explica que o prédio a ser construído é um "irmão" do anexo 4 da Câmara dos Deputados, edifício amarelo de dez andares. "É uma planta que desenvolvemos em 1987. Só fizemos algumas atualizações tecnológicas de ponta, como o sistema de esgoto a vácuo", conta.