Título: No Pontal, filhos de ex-sem-terra também querem terra
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2006, Nacional, p. A4,6

Há casos curiosos, como assentada que voltou à barraca para brigar por lote para os filhos

Desde que foi para o Pontal do Paranapanema (SP), em 1991, a piauiense Elizabete Paes Landim, de 54 anos, participa de invasões do MST. Na semana passada, sob a lona preta de um barraco, ela esperava ordem dos líderes para iniciar nova invasão.

Elizabete já é assentada - há 10 anos tem um lote de 20,5 hectares em Mirante. "Estou aqui pelos meus filhos", conta. Ednei, de 27 anos, Andréia, de 22, e Graziele, de 21, vivem no lote da mãe e estão no cadastro da reforma agrária como agregados. As filhas cuidam do lote e Ednei e a mãe as representam nas ações do MST. Elizabete leva ao acampamento as netas Valquíria, de 7 anos, e Francieli, de 5, e o filho Roberto Carlos, de 11.

No Pontal, mais e mais filhos de sem-terra lutam por lotes. "Está virando um círculo vicioso", alerta o consultor de Assuntos Fundiários da Comissão Nacional da Agricultura (CNA) para a região, Almir Soriano. "A cada sem-terra assentado, surgem outros dois ou três na própria família." Assim, acredita, os conflitos nunca vão ter fim.

O Pontal concentra os maiores conflitos fundiários do Estado. Nos últimos 15 dias, o MST invadiu 11 fazendas. O Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) diz que a fila de espera para assentamentos é de 7.188 famílias e não tem o número de agregados. O MST calcula que seja de 30% a 40% do total.

Para o líder do MST José Rainha Júnior, os filhos viram sem-terra por falta de opção. "Se ele pudesse escolher, estaria numa escola técnica ou na agroindústria, mas onde há empregos?" A direção regional do MST também culpa a falta de investimento nos assentamentos.

Na semana passada, o Itesp anunciou a liberação de 27 mil hectares para assentamentos. Segundo o líder Manoel Duda, o MST quer o assentamento imediato de 1.400 famílias prometido pelo governador Geraldo Alckmin. "São pessoas que estão sob a lona há vários anos."