Título: Volume de crédito ultrapassa R$ 600 bi e é o maior em 11 anos
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

O saldo de empréstimos no sistema financeiro chegou a R$ 606,8 bilhões em dezembro, o maior volume desde fevereiro de 1995. O valor corresponde a 31,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Em dezembro de 2004, empresas e pessoas físicas haviam tomado emprestados R$ 499,6 bilhões, ou 27% do PIB. Houve, portanto, crescimento de 21,5% ao longo de 2005. Os dados foram divulgados ontem pelo Banco Central (BC).

Apesar do aumento, o volume de crédito bancário no Brasil ainda é baixo se comparado a outros países. Na média mundial, os empréstimos tomados por pessoas e empresas equivalem a cerca de 100% do PIB. "Ainda há muito espaço para o crédito melhorar sua performance", comentou o especialista em crédito Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional de Executivos em Finanças e Contabilidade (Anefac).

O crescimento dos empréstimos em 2005 foi puxado pelas pessoas físicas, que se endividaram principalmente na modalidade crédito consignado (no qual as parcelas são descontadas dos salários ou, no caso dos aposentados e pensionistas, do benefício). O saldo desses empréstimos atingiu R$ 32,036 bilhões em dezembro, um aumento de 87,2% em comparação com 2004.

Outra explicação para o aumento do crédito são o acordos entre bancos e lojas de departamentos. Também por essa via, as pessoas físicas tomaram empréstimos que acabaram elevando o saldo de crédito na economia.

A avaliação do Banco Central é que, em 2006, a contribuição dos empréstimos consignados para o aumento do crédito será menor. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, as famílias estão próximas de seu limite de endividamento, por isso a tendência é que os créditos consignados sigam aumentando, porém numa velocidade menor.

Nos principais bancos federais, a expectativa para este ano é que haja realmente uma acomodação no ritmo de crescimento dos empréstimos com desconto em folha de pagamento. A Caixa Econômica Federal espera um aumento de 2% na sua carteira, que poderá atingir R$ 6,5 bilhões em empréstimos com desconto em folha. Em 2005, a taxa de crescimento chegou a 15%. O Banco do Brasil também aposta em crescimento, mas apenas no segmeno dos trabalhadores da iniciativa privada.

No ano passado, os convênios do banco com empresas privadas para fechar esse tipo de empréstimo representaram 15% da carteira, e o BB espera chegar a 30% este ano.

MAIOR CONFIANÇA

De acordo com dados divulgados ontem pelo Banco Central, o total de empréstimos a pessoas físicas chegou a R$ 155,2 bilhões no ano passado, um aumento de 37% em relação a 2004. Já no caso das pessoas jurídicas, os empréstimos chegaram a R$ 185,6 bilhões, um crescimento de 17,4%.

Além do aumento nos empréstimos, o Banco Central verificou que, na média, a taxa de juros bancários teve uma discreta queda, embora ainda continue elevada. Para as pessoas físicas, a taxa média caiu entre dezembro de 2004 e dezembro de 2005 de 60,5% para 59,3% ao ano, a menor em dez anos. Para as empresas, a taxa média dos empréstimos passou de 31% para 31,7% ao ano.

Houve também aumento dos prazos médios nos empréstimos aos clientes, o que revela, segundo o BC, maior confiança dos bancos na economia do País. Em média, o prazo para as pessoas físicas subiu de 296 para 319 dias e para as empresas aumentou de 189 dias para 218 dias no fim de 2005 em relação ao ano anterior.