Título: Brasil vai crescer 3% e será lanterninha dos emergentes
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2006, Economia & Negócios, p. B5

A ONU prevê um crescimento de apenas 3% para o Brasil em 2006, o menor entre as principais economias emergentes. A estimativa faz parte do relatório divulgado ontem pelas Nações Unidas, que estima um crescimento da economia global de 3,3% neste ano, mesmo padrão de 2005, mas abaixo dos 4% de 2004. A inflação no Brasil, porém, ficará abaixo da média latino-americana e deverá chegar a 5%.

Para 2005, a ONU também calculou que o Brasil teve o menor crescimento entre os países emergentes, com 2,5%. Em 2004, a taxa foi bem maior e chegou a 4,9%. Na avaliação dos economistas das Nações Unidas, parte da explicação seria o alto nível das taxas de juros. Uma prova disso seria o desempenho da demanda doméstica do Brasil. Segundo a ONU, a América Latina vai experimentar um aumento do consumo interno, ainda que em um ritmo menor que o crescimento do PIB da região. No caso do Brasil, o País não conseguirá seguir a mesma tendência e o pagamento de juros já chega a 7% do PIB nacional.

Já o controle da inflação no Brasil promete ser mais rigoroso que nos demais países latino-americanos em 2006. A taxa no País deve ficar em 5%. A média latino-americana foi de 6% em 2005, ante 7,4% em 2004. A ONU ainda lembra que até a pressão inflacionária criada pelo aumento do custo de energia foi compensada em 2005 pela valorização do real.

Segundo o relatório, com os juros altos, crescimento relativamente baixo e inflação dentro da meta, o Brasil teria espaço para adotar uma política macroeconômica menos rigorosa. Para a ONU, Brasil e México são os responsáveis pelo crescimento menor da América Latina em relação às demais regiões do mundo.

Para os economistas, a América Latina crescerá 4% este ano, ante 5,6% em 2004. Já os números das outras regiões serão melhores: 6,5% no Sudeste Asiático, 5,9% nas economias em transição, quase 9% da China e 5,5% na África. Os emergentes crescerão 5,6% em média este ano e continuarão a ser os motores da expansão mundial.

Mas, mesmo com um desempenho inferior ao das outras regiões, esse será o terceiro ano de crescimento seguido da América Latina. O aumento da renda per capita também será positivo e atingirá 10% pelo terceiro ano seguido, fato inédito.

O aumento do PIB regional será mais uma vez puxado pelas exportações, principalmente diante da demanda da Ásia. O desempenho acima da média mundial em 2005 já transformou a América Latina em continente exportador e com superávit de US$ 20 milhões em 2005. Os investimentos também devem aumentar na região, passando de 18,6% do PIB em 2005 para 19,6% neste ano.

Porém, segundo a ONU, a situação da América Latina ainda precisa ser acompanhada com atenção. Uma mudança no cenário financeiro internacional ou um eventual aumento da taxa de juros podem recolocar a região numa situação econômica complicada.