Título: Amorim rebate críticas européias ao Brasil
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2006, Economia & Negócios, p. B9

A União Européia (UE) pretende provocar o retrocesso nos acertos no capítulo agrícola da Rodada Doha obtidos durante a Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Hong Kong, em dezembro passado. Além disso, Bruxelas teria o objetivo tático de dividir e desmantelar o G-20, o grupo de economias em desenvolvimento, liderado pelo Brasil e a Índia, que insiste na liberalização no comércio agrícola, na eliminação de subsídios às exportações e na redução das subvenções a agropecuaristas. As advertências partiram do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

"As atitudes de Bruxelas deixam a impressão de que a União Européia está imbuída no objetivo tático de impedir que os compromissos de Hong Kong sejam cumpridos e que a Rodada prospere", afirmou Amorim. "Houve alguns avanços importantes em Hong Kong e seria natural esperar que a União Européia, dada a sua liderança, fizesse sinais de que iria implementar as decisões. Não esperávamos uma atitude tão negativa até mesmo sobre o que já foi acordado", completou.

Amorim afirmou que o Itamaraty recebeu informações sobre a posição de Bruxelas, confirmadas anteontem pelas declarações do comissário europeu para o Comércio, Peter Mandelson. Esses "sinais inquietantes" caíram como um balde de água fria nos objetivos do Brasil e do G-20 de conseguir avançar nas negociações, depois dos acertos de Hong Kong, e de fechar o acordo da Rodada Doha até 2006. No seu retorno da Europa, o ministro pretende concentrar-se no desafio de organizar um encontro dos líderes dos principais países envolvidos - uma iniciativa atribuída ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O ministro se disse preocupado com a iniciativa européia de propor cortes mais profundos nas tarifas de alguns produtos, em vez de apresentar uma fórmula geral de redução tarifária que pudesse abranger um universo significativo de itens agrícolas. "Isso é uma tentativa pouco velada de dividir o G-20", afirmou. "A União Européia já tentou duas vezes desmontar o nosso grupo, sem sucesso. Isso só atrasa a própria rodada", completou.

Amorim também investiu contra a omissão da União Européia em apresentar uma nova proposta sobre a abertura agrícola. Sem uma proposta consistente de Bruxelas nessa área, os Estados Unidos não apresentarão uma oferta aceitável sobre a redução dos subsídios à produção agropecuária. A Rodada, cujo motor é a área agrícola, acabaria em resultados pífios.

O chanceler ainda acentuou que é "injusta e imprópria" a insistente divulgação, por Bruxelas, da informação "falaciosa" de que a oferta brasileira sobre a abertura do setor industrial não seria adequada.

Para Amorim, a União Européia também estaria se esquivando de concordar com uma data para a redução substancial dos subsídios à exportação, que deverão ser eliminados em 2013, e com a apresentação de uma proposta de efetivo corte nos subsídios internos. Ambas foram orientações acordadas em Hong Kong.

Amorim embarca hoje para Davos, na Suíça, exclusivamente para participar de uma reunião de um grupo de países protagonistas da OMC - Estados Unidos, União Européia, Japão, Brasil, Índia e Austrália. O encontro, nos dias 27 e 28, se daria em paralelo ao Fórum Econômico Mundial e teria o objetivo de definir os próximos passos da Rodada Doha.