Título: Serra e Lula: empate técnico no 2º turno
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Nacional, p. A10

Revista ¿IstoÉ¿ omitiu simulação feita pelo Ibope que mostra prefeito com 45% e presidente com 42%

Se o segundo turno da eleição presidencial fosse disputado hoje entre Luiz Inácio Lula da Silva e o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), o tucano teria 45% das intenções de voto contra 42% do presidente - o que configura empate técnico. Os dados são da pesquisa Ibope realizada entre 12 e 16 de janeiro. Os números mostraram Lula de volta à liderança do primeiro turno, também em empate técnico, e indicam forte redução da vantagem de Serra no round decisivo da eleição. Em dezembro, o tucano estava 13 pontos à frente de Lula no segundo turno.

Os resultados do segundo turno foram divulgados apenas na noite de ontem pelo Ibope, à revelia da Editora Três, que contratou a pesquisa. Na quinta-feira, a editora negou que tivesse encomendado levantamento sobre o segundo turno. Foram realizadas cinco simulações, três delas citando Lula, contra Serra, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho (PMDB). Apenas Serra leva vantagem sobre o presidente candidato à reeleição. E Lula ampliou a diferença sobre Alckmin e Garotinho. Ambos tentam garantir, respectivamente no PSDB e no PMDB, o direito de disputar a sucessão presidencial.

Lula tem 48% das intenções de voto contra 35% de Alckmin. Bate Garotinho por 49% a 30%. Nas outras simulações, Garotinho enfrenta Serra e Alckmin. O prefeito venceria o ex-governador ( 54% a 26%). Alckmin, com 37%, ficaria em empate técnico com o peemedebista. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos porcentuais, para mais ou para menos.

OMISSÃO

A Editora Três, que edita a IstoÉ, onde foram publicados os dados da pesquisa ontem, omitiu vários dos resultados obtidos, não apenas sobre o segundo turno. Ao contratar o levantamento, a editora incluiu perguntas de avaliação do governo Lula e várias questões de interesse específico do pré-candidato do PMDB. O Estado teve acesso à integra do questionário no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma resolução do tribunal determina que sejam disponibilizados o questionário e os resultados, mesmo aqueles não divulgados. Na noite de quinta-feira, telejornais da Rede Globo anteciparam os números publicados na edição de ontem da IstoÉ e informaram que a revista não encomendara sondagem sobre o segundo turno.

"Os primeiros números mostram que Lula sai na frente, Alckmin ainda não decola e Garotinho é o candidato viável para quem não quer PT nem PSDB", diz a chamada de capa da revista. O questionário aplicado, sem menção na IstoÉ, inclui perguntas como "Qual seria a principal ação que Garotinho poderia ter e que faria o (a) sr. (a) pensar em votar nele para presidente?" Na lista, estão ações como "mostrar que é a favor dos pobres" e "não misturar religião com política", entre outras. Garotinho é evangélico.

As perguntas incluem uma avaliação sobre as características atribuídas ao ex-governador do Rio - competência, honestidade, autoridade - e a opção religiosa do entrevistado.

De acordo com a diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari, o teor do questionário foi definido por orientação da Editora Três, que teria informado que faria perguntas temáticas, por candidato, em novas sondagens. Não há nenhum outro levantamento encomendado pela empresa. Márcia não soube dizer quem representou a editora na assinatura do contrato. A pesquisa foi faturada pela Editora Três, a um custo de R$ 126 mil.

Os eleitores de baixa renda e escolaridade são os principais responsáveis pela recuperação dos índices de intenção de voto no presidente Lula. "O desempenho dele entre as classes mais baixas já tinha segurado a queda nos índices de intenção de voto, em setembro, agora impulsiona a recuperação", avalia a diretora do Ibope.