Título: Presidente avisa ao PMDB que fala de eleição em junho
Autor: Vera Rosa, Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Nacional, p. A6

Reunido com 14 senadores do partido, ele explica que estratégia é comparar seu governo com o de FHC: ¿Em qualquer área nós fizemos mais¿

Em jantar com 14 dos 21 senadores do PMDB, quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou seduzir o partido aliado a integrar o palanque governista, mostrando que o Palácio do Planalto tem muito a apresentar na eleição de outubro. Lula não perdeu tempo: 24 horas depois de a ala oposicionista do PMDB lançar a candidatura do governador gaúcho Germano Rigotto à sua sucessão, ele afagou os peemedebistas mais próximos.

Apesar de dizer que só falará sobre reeleição em junho, porque antes pretende viajar para inaugurar obras, o presidente deixou claro o interesse no PMDB e qual será a estratégia agora: comparar seu governo com o do antecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

"Eu não vou cair na armadilha de falar sobre eleição antes de junho", avisou Lula durante jantar oferecido pelo líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB). "Mas vocês podem ter certeza de que o governo tem o que mostrar. Vocês não sabem, mas não se preocupem. O PT também não sabe", emendou, sob o argumento de que há muitas falhas na comunicação do Planalto.

Lula levou a tiracolo a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que apresentou slides recheados de números sobre as "realizações" do governo em todos os setores, com ênfase na área social. Foi a mesma exposição que ela fez na reunião ministerial de 19 de dezembro, sob o mote "Mais Desenvolvimento, Menos Desigualdade". Na casa de Suassuna, Dilma foi auxiliada pelos ministros Jaques Wagner (Relações Institucionais), Silas Rondeau (Minas e Energia) e Saraiva Felipe (Saúde).

"Vocês estão surpresos? Sem a venda nos olhos se vê melhor", afirmou Lula, segundo relato do senador Gilvan Borges (AP). Em sua interpretação, o presidente se referia ao fato de a crise política ter desviado o foco da agenda positiva. Animado com a última pesquisa do Ibope, que o recolocou à frente de todos os adversários na disputa pela Presidência, entre eles o prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmin, do PSDB -, Lula agiu como candidato nas três horas e meia do jantar.

"Sei que muitos aqui têm ligação com FHC. Mas podem pegar qualquer área para comparar e vão ver que nós fizemos mais. É que muitos governadores não divulgam em seus Estados. Quando assumi o governo, nem comida tinha para os militares. O último avião foi comprado por Castello Branco. Será que a oposição queria que os militares ficassem sem comer e o presidente andasse de jegue?"

Onze quilos mais magro, Lula não caiu em tentação. Diante da mesa farta, só comeu carne-de-sol e salada e tomou apenas água. "O presidente estava extremamente simpático", contou Suassuna. "Se fosse ele, eu tentaria conquistar o PMDB, se não inteiro, pelo menos seduzindo as dissidências."