Título: Lula comemora vitória, que reduz tendência de polarização com PSDB
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2006, Nacional, p. A4

O projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu seu primeiro grande obstáculo político ao derrubar a verticalização. Uma das conseqüências deve ser o aumento do número de candidatos presidenciais, o que desfará a tendência atual de polarização entre a candidatura Lula e o candidato da virtual frente PSDB-PFL.

A obrigatoriedade de repetir nos Estados a aliança presidencial representava outro problema: limitaria Lula ao apoio do PT e lhe daria um tempo reduzido de campanha na TV. Isso porque os atuais partidos governistas - quase todos de pequeno e médio porte - tenderiam a fugir da aliança nacional para ter liberdade nas coligações estaduais e cumprir a "cláusula de barreira", a ser aplicada pela primeira vez neste ano.

O espaço ganho para ampliar a aliança da reeleição deve determinar, porém, o encolhimento da bancada federal do PT. A liberdade nas coligações regionais aumentará a concorrência com candidatos do PC do B e do PSB, por exemplo. Por isso, eles votaram ontem contra a orientação do presidente.

Lula quis preservar seu interesse estratégico. Além de definir o cenário que julga o melhor para si, pode ter outra vez o mesmo tempo de propaganda na TV, se repetir com PL, PP e PTB a coalizão de 2002.

Como em política existem custos, Lula será desafiado a administrar a má vontade de muitos petistas e conflitos regionais difíceis no interior de sua aliança. Deve-se observar, também, que a queda da verticalização tornará irreversível uma candidatura própria do PMDB à Presidência.

Sem a mudança, o projeto naufragaria para não enfraquecer os candidatos a governador do PMDB, considerados favoritos em pelo menos 14 Estados. Seja quem for o candidato, ele será de oposição e, portanto, um predador a mais dos votos de Lula.

A queda da verticalização é uma derrota para o PSDB, mas não lhe imporá prejuízo relevante. Dificulta a desejada polarização com Lula no primeiro turno, mas facilitará a aliança com o PFL. Os tucanos podem, ainda, atrair outros aliados no primeiro turno, como o PPS, o PDT e a grife política do PV.