Título: 'O Hamas e a Fatah escolheram a democracia'
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2006, Internacional, p. A10

A Fatah está disposta a uma divisão do poder com o Hamas?

Isso está bem claro. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, já disse que não podemos avançar no processo de paz sem que todos façam sua parte e participem das decisões mais importantes do Estado Palestino.

Um bom resultado do Hamas constitui uma coisa boa ou uma ameaça ao futuro processo de paz?

Nós escolhemos a democracia e acreditamos que toda a sociedade deva participar desse exercício, mesmo o Hamas. O que esperamos é que nesse exercício democrático eles sejam menos radicais e mais responsáveis em suas decisões sobre a resistência à ocupação. A democracia contém seus riscos, e estamos dispostos a corrê-los.

Como explica o sucesso do Hamas?

O Hamas é o partido do fundamentalismo político e religioso. As pessoas confundem religiosidade com fundamentalismo religioso. Em todo caso, eles estão aí e esperamos que participem do poder, mas é preciso que aceitem também as decisões da maioria.

Com a divisão de poder, a Fatah terá de se modernizar, terá de efetuar reformas indispensáveis, diante das acusações de clientelismo, brigas internas e corrupção. Ela está disposta a isso?

No momento em que ocorrer essa divisão de poder com outros grupos políticos, a Fatah, que tem quadros excelentes, vai caminhar nessa direção, e sem dúvida vão ocorrer reformas importantes.

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O presidente Mahmud Abbas espera contar com o Hamas nesse ponto. Eles estão dispostos a se submeter a uma única força de segurança, reunindo todas as existentes sob a mesma bandeira, a do governo eleito.