Título: Hamas aceitaria coalizão
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2006, Internacional, p. A10

Logo nas primeiras horas da eleição parlamentar palestina, um dos principais líderes do movimento fundamentalista islâmico Hamas, Mahmud Zahar, declarou aos jornalistas em Gaza que o grupo não descarta a possibilidade de formar um governo de coalizão com o partido do governo, a Fatah.

Ele repetiu, porém, que o Hamas não se converterá num partido político nem pretende negociar diretamente com Israel. Só aceitaria fazê-lo por intermédio de terceiros e desde que os israelenses tenham algo a oferecer. Quando lhe perguntaram se o Hamas aceitará um dia a existência de Israel, Zahar foi categórico: "Nunca."

No seu programa, o grupo prega a destruição de Israel. Na prática, porém, negociações bilaterais, sob mediação de terceiros, já acontecem nas cidades e vilas governadas pelo Hamas na Cisjordânia, quando os prefeitos têm de resolver problemas que dependem de contatos com autoridades israelenses.

Não está claro se interessaria ao Hamas integrar um governo de coalizão com a Fatah, o partido do presidente palestino, Mahmud Abbas, ou se preferiria ficar na oposição, fortalecendo-se para as próximas eleições legislativas e municipais. A Fatah perdeu apoio por causa da corrupção no governo da Autoridade Palestina, a precariedade dos serviços públicos e o caos na segurança interna.

Quanto à Fatah, Abbas deixou claro que preferiria a opção de formar um governo de coalizão com os grupos minoritários e candidatos independentes. As pesquisas de boca-de-urna indicam que , depois do Hamas e da Fatah, os mais votados foram a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), um grupo marxista, que teria 4,2% dos votos, e a Terceira Via, do ex-ministro das Finanças da AP, Salam Fayyad, com 2,4%.

Outra questão delicada seria a reação israelense a uma eventual coalizão Fatah-Hamas. Ontem o primeiro-ministro interino de Israel, Ehud Olmert, afirmou que o país não aceitará que o Hamas tome parte do governo com sua "atual estrutura e prioridades". "Não manterei um diálogo com um governo que não respeite seus compromissos mais elementares e não lute contra o terrorismo", disse Olmert, num comunicado.

O Hamas não disputou a eleição parlamentar anterior, em 1996, porque não reconheceu os acordos de paz de Oslo. Apenas no ano passado, o grupo começou a participar do processo eleitoral, disputando as eleições municipais.