Título: Safra de café pode aumentar para 43 milhões de sacas
Autor: Tomas Okuda
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2006, Economia & Negócios, p. B16

Redução de estoque eleva preço do grão para US$ 135 a saca de 60 kg; em 2002, valia US$ 40

O mercado mundial de café tem mostrado vigor como não se via há pelo menos sete anos. Prova disso é a consistente ascensão dos preços do grão, depois de queda recorde em 2002. Naquele ano, a saca de 60 quilos chegou a ser negociada a US$ 40. Agora, vale cerca de US$ 135.

A virada do mercado veio com a gradativa redução da oferta nos países produtores, por causa da baixa rentabilidade da cultura nos últimos anos. Mais recentemente, a disponibilidade de café ficou ainda mais curta em virtude de problemas climáticos no Vietnã (seca) e em países da América Central e México (tempestades e furacões).

Nesse cenário, as atenções estão voltadas para o Brasil, maior produtor e exportador mundial. A safra 2006/2007, cuja colheita começa entre abril e maio, está estimada entre 40,4 milhões e 43,6 milhões de sacas, ou 10 milhões de sacas a mais que no período anterior. "Se na safra 2006/2007 o País terá café suficiente, o mesmo não ocorrerá nos próximos três ciclos", prevê o corretor Rodrigo Costa, da Fimat Futures, em relatório distribuído aos clientes. Segundo ele, embora mais altos, os atuais preços não encorajam a produção, com exceção do Brasil e Vietnã, onde os custos são baixos. Mesmo assim, o Vietnã tem escassas áreas irrigáveis. No Brasil, há consenso de que o plantio desenfreado resulta em excesso de oferta e queda dos preços. Os produtores procuram, então, diversificar lavouras, com outras culturas como soja e cana. Na melhor das hipóteses, o nível de oferta no País deve ser garantido pelo parque cafeeiro, avaliado em 6 bilhões de pés, cuja maior parte teria menos de 10 anos e estaria em condições de produzir bem. "É improvável que a oferta dê saltos maiores que os já conhecidos", diz Costa.

Ele ressalta que não há mais espaço para quebra de produção ou perda de estoques. "Isso justifica por que acreditamos que a volatilidade dos preços será muito alta dentro dos períodos de risco (estiagem e geadas) e que as cotações podem alcançar níveis nunca negociados se algo ocorrer."

Quanto à demanda, acredita-se que a evolução de 1,5% a 2% ao ano será mantida, acompanhando o crescimento da população. O presidente da Tristão Comércio Exterior, Sérgio Tristão, diz que a demanda mundial por café nos próximos 5 anos deve crescer em cerca de 10 milhões de sacas de 60 kg. "Considerando a taxa média de crescimento do consumo, em 5 anos vamos precisar de mais 10 milhões de sacas", informa. Ele projeta o consumo global em 2006/2007 de 120 milhões de sacas, para uma produção de 110 milhões de sacas.

Tristão concorda que outros produtores, como Vietnã, Índia e Colômbia, têm pouco potencial de produção e competitividade se comparados ao Brasil. Mas faz uma ressalva: "Se não houver fomento, ou seja, preços remuneradores aos produtores, problemas de oferta podem surgir já em 2007/2008".

Costa avalia que dois fatores devem ser acompanhados de perto: o ritmo de exportação dos países produtores nos cinco primeiros meses do ano e a utilização dos estoques.

O corretor calcula que o consumo brasileiro de café entre janeiro e maio seja de 6,5 milhões de sacas. Considerando exportação de 1,6 milhão de sacas por mês, no início da safra 2006/2007, em junho, o Brasil terá apenas 2 milhões de sacas em estoque. Costa diz que é difícil precisar quais os estoques brasileiros, mas mesmo que estejam 3 milhões de sacas acima do estimado, são impróprios para exportar.

Até maio, o volume de café disponível no mercado físico será menor em virtude da entressafra. A forma de atender a demanda será a desova dos estoques. O diretor da exportadora Marcelino Martins & Johnson, Sérgio Wanderley, estima que os armazéns contenham 20 milhões de sacas nos países consumidores. Segundo ele, o volume é elevado, considerando a média histórica de 10 milhões de sacas, e pode manter o equilíbrio de oferta e demanda.

Mas o mercado não tem respeitado esse número. Os fundos de investimento abriram 2006 dispostos a apostar no mercado futuro de café. Na Bolsa de Nova York, os fundos passaram de saldo líquido "vendido" no fim de 2005 para "comprados" em atuais 20 mil lotes (cerca de 6 milhões de sacas, ou metade do que a maior torrefadora do planeta processa em um ano). A indústria continua menos "comprada" na Bolsa do que o ideal. Os países produtores vendem nas altas de preços, mas com menos força do que se imaginava. Esta, conclui Costa, é a receita para forte alta de preços.