Título: 23 ônibus são apedrejados no ES
Autor: Felipe Werneck
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2006, Metrópole, p. C6
Vinte e três ônibus foram apedrejados ontem em dois terminais de Cariacica, no Espírito Santo, após uma paralisação de motoristas motivada pelo assassinato de um cobrador, às 5h20. Houve conflito entre motoristas, trocadores e passageiros ao longo do dia. De acordo com o presidente da Companhia Estadual de Transportes Públicos (Ceturb), Marcelo Ferraz, 574 ônibus deixaram de circular e cerca de 400 mil pessoas ficaram sem transporte na Grande Vitória.
Líder sindical, Sarlaine dos Santos Nascimento, de 24 anos, foi assassinado com três tiros na cabeça. O crime ocorreu na primeira viagem do ônibus da linha 748 (São Geraldo-Dom Bosco). O motorista, Walter Grippa, contou que um homem fez sinal para que ele parasse, entrou no ônibus, matou o colega e fugiu a pé.
O titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Danilo Bahiense, afirmou que a morte "não tem ligação" com a queima de três ônibus na região metropolitana, ocorrida há cerca de 15 dias. "Todo o sistema está parado. Apesar de ser solidária com a morte do cobrador, a população não aceitou ficar sem transporte. Não houve bom senso por parte dos rodoviários", afirmou Ferraz. No terminal de Campo Grande, os passageiros quebraram os vidros, arrancaram janelas de emergência e apedrejaram a lataria de oito ônibus, danificaram banheiros, lojas e a torre de controle da Ceturb. O forro de algumas poltronas também foi rasgado. "Teve conflito e luta corporal entre passageiros e rodoviários pela manhã, quando 17 ônibus foram depredados. A população não aceita isso. Toda a revolta foi canalizada para os ônibus."
Hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai ao Espírito Santo participar da inauguração de uma subestação de energia em Viana, município onde morava e será sepultado o trocador, às 10 horas.
De acordo com o presidente da Ceturb, 1.200 ônibus costumam circular às segundas-feiras na Grande Vitória, transportando cerca de 800 mil passageiros. "Estamos conversando com os rodoviários, na esperança de que até o fim da noite a gente consiga colocar o serviço para funcionar."
PARALISAÇÃO
Reunião realizada no Sindicato dos Rodoviários não tinha terminado até as 18 horas de ontem, mas o presidente da entidade, Carlos Alberto Mazzoni, afirmara mais cedo que a paralisação continuaria hoje em toda Grande Vitória. Por orientação do sindicato, os ônibus foram levados para as garagens das empresas. "Está difícil convencê-los de que o povo não pode pagar esse preço", disse Ferraz.
Alguns ônibus já haviam parado no sábado em Vitória por quase dez horas, em protesto de motoristas e cobradores que reivindicavam mais segurança no trabalho. Desde o início do ano, três ônibus foram incendiados - dois deles em Cariacica. A Polícia Civil investiga a hipótese de a ordem ter partido de criminosos presos, supostamente em protesto contra a situação nos presídios do Estado.
Em novembro de 2004, dez ônibus foram queimados. Na época, o governador Paulo Hartung (PMDB) pediu ajuda ao governo federal, que enviou ao Espírito Santo soldados do Exército e, em seguida, homens da então recém-criada Força Nacional de Segurança.
Até hoje, a polícia do Espírito Santo não conseguiu identificar os autores dos ataques.