Título: Resgate demora, diz Mércio
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2006, Nacional, p. A4

"O Brasil ainda precisa de 30 anos para se reconciliar com seu passado no que se refere à questão indígena." A afirmação é do presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, que acredita que a completa participação dos povos indígenas na sociedade brasileira ainda vai demorar. Mércio está em Genebra para participar de reuniões promovidas pela Organização das Nações Unidas.

A demarcação de terras, portanto, não significará o fim de todos os problemas. "Precisamos de três décadas ainda para que esses povos sejam auto-suficientes, com uma produção de excedentes e que ao mesmo tempo não gere disparidades entre os membros da comunidade, com índices de saúde equivalentes aos do restante da população, com taxas de mortalidade infantil iguais às do resto da população", afirmou Mércio

Pelas previsões, a população indígena no País deverá ser de um milhão de habitantes em 30 anos. Hoje, são 450 mil, com uma taxa de crescimento de 3,5% ao ano.

"Em 1500, existiam 5 milhões de indígenas no território que hoje é o Brasil. Em 1950, essa população era de apenas 150 mil. Mas nos últimos dez anos voltou a crescer", disse Mércio.

EDUCAÇÃO

Segundo o presidente da Funai, alguns progressos foram registrados nos últimos anos na participação dos indígenas na sociedade brasileira, como o aumento do número de indígenas nas universidades.

Em 1997, havia cem índios estudando em faculdades pelo País. Hoje, esse número seria de 2.500.

Mas Mércio reconhece que as intervenções do Estado no que se refere à saúde e à educação dos índios ainda são falhas. "Dos 220 povos indígenas no País, 20 têm uma educação sólida e em cerca de cem deles há um esforço para avançar nisso. Mas o restante ainda não é atendido de forma adequada", disse.

A Funai, porém, culpa Estados e municípios. "Desde que a educação passou a ser de responsabilidade de Estados e municípios, ficou muito mais difícil conseguir que uma pequena cidade contrate professores em quantidade suficiente", disse. Há hoje cerca de 5 mil professores indígenas.