Título: Cimi critica meta do governo
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2006, Nacional, p. A4

"É fantasia de carnaval", reagiu o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) à declaração do presidente da Funai sobre a cota de 1 ponto porcentual para ampliação das reservas . "Este senhor (Mércio Pereira Gomes) tem problemas com números", disse padre Paulo Suess, ex-secretário-executivo e hoje assessor teológico do Cimi. "Um por cento é um número aleatório, que não condiz nada com a realidade. Se querem aumentar a área, vamos saber primeiro qual o tamanho das áreas do agronegócio e da soja e quem está ganhando território na Amazônia, por exemplo."

Padre Paulo sustenta que o quadro apresentado pela Funai é bem diferente da realidade. "Porque não tem relação com a gravíssima situação de conflitos e com os territórios reivindicados pelos índios. Não está relacionado nem mesmo à própria Constituição. O critério do 1% é até anticonstitucional, é algo tirado estatisticamente sem fundamento, sem obedecer a critérios antropológicos, sociológicos e humanísticos."

O Cimi contesta também os dados da Funai, inclusive sobre a população indígena. "Ele (Mércio) fala em 450 mil índios no Brasil, mas o censo do IBGE aponta 714 mil índios, é este o registro oficial", alerta padre Paulo. Ele anotou ainda que levantamento do Cimi indica a existência de 841 áreas indígenas, enquanto a Funai registra menos. "Fizemos um levantamento amplo, Estado por Estado, área por área", ressalta o dirigente do Cimi.

Segundo padre Paulo, apenas 30% das áreas indígenas têm procedimento concluído, com registro e homologação. "Setenta por cento das reservas sofrem com invasões, são territórios com pendências. A situação é bastante grave, daí os conflitos no Mato Grosso do Sul, onde há superpopulação em área insuficiente. Todas as áreas são muito pequenas e a população está crescendo."

Dados do Cimi mostram que, no ano passado, ocorreram 38 assassinatos de índios, 6 em conflitos diretos com jagunços e com a polícia, outros por choques provocados pela não demarcação das terras. "São áreas que não receberam nenhuma providência oficial, nem sequer tiveram processo de identificação iniciado", protesta padre Paulo. "São índios jogados em áreas informais, não reconhecidas. Falta vontade de demarcar."