Título: Para Levy, Brasil não é tigre, mas já virou onça
Autor: Denise Chrispim Marin, Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2006, Economia & Negócios, p. B7

Tesouro lista indicadores positivos no governo Lula

No seu primeiro anúncio público deste ano eleitoral, o Tesouro Nacional divulgou ontem uma coletânea de indicadores positivos da economia nos últimos três anos e acentuou seu cenário mais otimista que o do próprio Banco Central para o crescimento da economia em 2005, de 3%. Ainda antecipou que a dívida líquida do setor público fechou o ano passado em 51,01% do Produto Interno Bruto (PIB) - dado que indica que o esforço fiscal imposto ao País em 2005 produziu uma redução de apenas 0,69 ponto porcentual em relação ao ano anterior. O número oficial será divulgado segunda-feira.

Os indicadores foram condensados num documento intitulado "O Brasil Virando Onça", uma tentativa de comparar o desempenho macroeconômico do País ao dos tigres asiáticos. Trata-se das nações da Ásia que expandiram a economia nas últimas duas décadas.

O calhamaço de 17 páginas com a foto ilustrativa do felino foi preparado pelo técnico que mais simboliza a atual política, o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, e passou pelo teste de suas recentes exposições de promoção dos resultados da economia brasileira na Europa e na Ásia. De volta ao Brasil, entretanto, virou material de campanha.

No mesmo tom dos recorrentes discursos do presidente Lula, o documento conclui que o País, nos últimos três anos, "aproveitou o bom momento para confirmar a responsabilidade fiscal, superar a restrição externa, avançar na agenda microeconômica, transformar a composição da dívida pública e investir e melhorar as condições de vida da população".

A aposta numa expansão do PIB de 3% em 2005, expressa no documento, contrariou as projeções do Banco Central de crescimento da economia de 2,6% no período, registradas no relatório de inflação de dezembro, e também as estimativas do mercado de aumento de 2,3%, que constam da pesquisa Focus.

Em entrevista no Ministério da Fazenda, 6 horas depois da divulgação do material, Levy afirmou que a estimativa de crescimento de 3% não é real e se tratava do porcentual registrado no último decreto de Programação Orçamentária, de dezembro passado. "Só vou saber quando o Banco Central divulgar. Toda vez que sou questionado sobre o crescimento em 2005 e em 2006 digo que não tenho a menor idéia", corrigiu. "Eu só uso números convencionais. Desculpe-me se causou estranheza."

Na análise, o Tesouro explorou ainda uma "constelação de projeções benignas para o País" nos próximos anos. O documento afirma que é possível chegar a 2010 a um cenário em que as contas públicas se aproximariam de um déficit nominal zero e um nível de dívida próximo ao do México, caso sejam mantidas as perspectivas de redução da dívida pública em relação ao PIB no período.

Esse cenário considera também as expectativas do mercado, registradas na pesquisa Focus, de um superávit primário de 4,25% do PIB nas contas públicas e de crescimento econômico de 3,5% a 4% ao ano. O Tesouro também traça cenários para a dívida líquida até 2011, que mostram que ela pode cair para um patamar entre 40,2% e 36,9% do PIB. Na mesma projeção, vale lembrar, essa relação seria de 51,01% em 2005.