Título: 'Corrupção está na política, não no esporte', diz Pelé
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2006, Economia & Negócios, p. B6

Maior jogador de futebol de todos os tempos diz em Davos que o esporte pode ajudar no desenvolvimento

Na sua estréia no palco de celebridades políticas e empresariais, em Davos, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, disse que a corrupção está na política, e não no esporte, ao comentar os casos de árbitros comprados no Brasil e na Alemanha.

"No futebol teve dois casos. Não é comparável à situação na política, por exemplo", disse Pelé, durante o painel no qual debateu o tema "Pode uma bola mudar o mundo?", junto com Joseph Blatter, presidente da Fifa, Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) e David Stern, comissário da Associação Nacional de Basquete (NBA), dos Estados Unidos. "Temos de combater estes casos, mas não aceito a (crítica de que há) corrupção no futebol", acrescentou Pelé.

Mais tarde, a jornalistas brasileiros, ele reforçou sua opinião: "Eu falei na política porque você sabe que a política é mais corrupta do que tudo, mesmo. Tem os bons políticos, mas infelizmente a maioria... Você vê escândalos e mais escândalos nos jornais, a torto e a direito. Como é uma coisa comum, o povo nem fala mais. Como no futebol não existe, se acontece um caso, aí ficam falando".

Pelé também defendeu o futebol das críticas aos casos de racismo das torcidas, que vêm acontecendo no futebol europeu. Tanto em relação à corrupção quanto ao racismo, o ex-jogador usou o mesmo raciocínio: são milhares de jogos todos os dias, para muito poucos casos. Ele lembrou sua primeira Copa do Mundo, na Suécia, em 1958, quando tinha 17 anos e era um menino vindo do interior, e estranhou o fato de que apenas a seleção brasileira tivesse negros. "Hoje, vemos negros em todas as seleções", disse Pelé, considerando um avanço social associado ao futebol.

Durante o debate, todos os participantes enfatizaram o caráter igualitário dos esportes, e o papel que podem representar na promoção do desenvolvimento social e da paz. Pelé lembrou que, numa excursão do Santos pela África, na década de 60, uma guerra foi interrompida por uma semana para que o time pudesse se exibir. "O futebol é a maior família do mundo, e é uma família na qual entra pobre, rei, plebeu, e não tem problema de etnias e religiões", disse o craque, acrescentando que "isso é uma coisa maravilhosa, mais importante de que todo o business que gera a nação do futebol". Sobre o governo Lula, Pelé disse que "todos ficamos tristes com tudo o que aconteceu, mas temos de dar a volta por cima e fazer a bola rolar".

Durante o debate, houve uma disputa cômica entre o presidente da Fifa e o comissário da NBA sobre a popularidade dos respectivos esportes. Blatter disse que 250 milhões de pessoas estão envolvidas diretamente com o futebol no mundo, e 1 bilhão indiretamente. Stern rebateu dizendo que, apenas na China, 250 milhões de crianças jogam basquetebol.