Título: Encerra-se um ciclo de crescimento e controvérsias
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2006, Economia & Negócios, p. B5

Ao encerrar o mandato iniciado em 1987 à frente do Federal Reserve (Fed), Allan Greenspan deixará atrás de si um legado polêmico na visão de analistas econômicos aos quais o ex-ministro do Trabalho Edward Amadeo faz coro. "Nessa semana, Greenspan será comemorado, afinal a economia americana está em crescimento," diz. "Mas o seu legado é controverso, especialmente pelo fato de não ter procurado, com ações mais do que discursos, evitar algumas das bolhas que sacudiram os Estados Unidos, como a das empresas de tecnologia em 2000 e mais recentemente a imobiliária."

Amadeo explica: "Apesar de ter alertado o mundo três anos antes para a exuberância irracional dos mercados, com as apostas pesadas de investidores em empresas de tecnologia, ele não usou a política monetária (o seu principal instrumento são os juros) para impedir o desastre. O mesmo ocorreu com a bolha imobiliária, pois com juros baixos, os investidores buscaram outros ativos".

O ex-ministro pondera, no entanto, que o legado de Greenspan, um economista de 79 anos, só poderá ser avaliado, pelo retrovisor da história, daqui há pelo menos dez anos. Já o economista Raul Velloso vê com preocupação o fim dessa era. Segundo ele, Greenspan nunca deixou de olhar para os países emergentes, considerando nas decisões da política monetária da maior potência econômica mundial os possíveis efeitos sobre os demais países.

Para Velloso, não fosse a moderação da política monetária americana, o Brasil e outros emergentes estariam enfrentando maior dificuldade para equilibrar suas contas externas e para crescer. "Com o juro americano mais elevado, o BC brasileiro seria forçado a elevar ainda mais a taxa de juros para atrair dólares."

O economista brasileiro recorre às más lembranças do período em que Paul Volker esteve à frente do Fed, no final dos anos 70 e início dos 80. Na época, para debelar a inflação, Volker elevou a taxa de juros para a casa dos 15% ao ano, o que fez explodir dívidas externas de países como o México e o Brasil.