Título: Cabrera troca gado por cana-de-açúcar
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2006, Economia & Negócios, p. B6

Uma das maiores produtoras de leite do País, a família do ex-ministro da Agricultura Antônio Cabrera Mano Filho decidiu, depois de 80 anos de atividades, trocar o gado leiteiro pela plantação de cana-de-açúcar para a produção de álcool.

A produção leiteira da família teve início com Antônio Cabrera Batista, avô do ex-ministro, e continuou com o pai, Antônio Cabrera Mano. Hoje, desestimulados pela falta de incentivo e preço baixo do leite, os Cabreras estão leiloando todo seu plantel (700 vacas e 500 novilhas), um dos mais respeitados do País, e a estrutura para a produção de leite da Fazenda São José, de 1,3 mil hectares, em Gastão Vidigal, no interior de São Paulo.

Lá, a ordenha ainda rende mais de 7 mil litros de leite por dia. Já rendeu muito mais. "Chegamos a produzir 27 mil litros/dia, mas não temos condições de continuar somando tantos prejuízos", lamenta o ex-ministro. A produção tem data para acabar: "No dia 12 de fevereiro já não estaremos mais produzindo uma gota de leite." O leilão de liquidação do plantel será no dia 11 de fevereiro, em São José do Rio Preto.

Segundo ele, o desinteresse do governo, a falta de créditos a juros baixos e o câmbio com o dólar desvalorizado, além das dificuldades da febre aftosa, selaram o fim da atividade."Faltou acesso aos créditos com juros baixos e o câmbio, dificultou as exportações. Além disso, a aftosa prejudicou os negócios com os subprodutos do leite."

Pelas contas de Mano Filho, em números redondos, a atividade leiteira estava causando um prejuízo anual de R$ 30,00 a R$ 50,00 por hectare.

"Com a cana de açúcar, vou ter um lucro de R$ 800 por hectare", diz Cabrera, acrescentando que a família estuda parceria com um grupo industrial para investir R$ 100 milhões na instalação de uma usina de açúcar e álcool na propriedade. "Por mais que eu seja apaixonado pela história e tradição da minha família, não posso continuar, sinto muito, mas preciso sobreviver", comenta.

Para o ex-ministro, a sede do governo em manter um preço baixo para a cesta de alimentos prejudica a atividade produtiva. "O Lula esqueceu que os produtores precisam sobreviver e está enterrando a agricultura", afirma. Ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, recomenda: "Ou ele dá um murro na mesa e exige mudanças ou pega suas coisas e deixa o cargo. Desse jeito, ele só está queimando sua reputação política".