Título: BNDES tem R$ 4,4 bi para política industrial
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2006, Economia & Negócios, p. B7

A carteira de investimentos do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nas linhas voltadas aos quatro setores prioritários da política industrial já soma perto de R$ 4,4 bilhões, em projetos que estão desde a fase de perspectiva e análise até os que já receberam desembolsos. Parte deles poderá ser financiada pelo banco. Os valores incluem projetos na área farmacêutica, estudos para a criação de uma fábrica de semicondutores e fortalecimento de empresas de software.

Na prática, o primeiro ano de operação destas linhas foi 2005. Isso porque o governo definiu apenas no primeiro trimestre de 2004 os setores prioritários - máquinas e equipamentos, farmacêuticos, software e semicondutores. A partir daí, as linhas começaram a ser estruturadas, a maioria entrando em operação depois do segundo semestre de 2004. E algumas demoraram a decolar.

O Modermaq, por exemplo, engrenou apenas depois de março de 2005. "Os desembolsos mensais avançaram e houve um amadurecimento da linha", diz o chefe do departamento de Máquinas e Equipamentos, Cláudio Leal. A linha, voltada à aquisição de equipamentos, fez até dezembro 5.018 operações, no valor de R$ 1,7 bilhão.

No setor farmacêutico, os valores da carteira em dezembro eram de R$ 1,5 bilhão - 90% acima do valor do mesmo mês em 2004 - dos quais R$ 797,7 milhões podem ser financiados pelo banco. A carteira é formada por projetos que estão em perspectiva, em fase de carta consulta, análise, enquadrados, aprovados ou contratados. Até o fim de abril, a diretoria do banco deverá analisar três projetos para investir R$ 500 milhões.

Na sexta-feira, o banco aprovou crédito de R$ 45,5 milhões à Biolab Sanus, para investimentos na pesquisa de 13 novos medicamentos, entre outros objetivos. O grupo EMS-Sigma Pharma, por exemplo, pleiteia financiamento para a construir uma nova fábrica e admite recorrer ao programa, no futuro, para financiar uma aquisição. A nova fábrica em Hortolândia (SP) custará US$ 50 milhões e triplicará a produção do grupo. O diretor da divisão internacional e novos negócios do EMS, Daniel Feliciano Ferreira, diz que a nova unidade atenderá os mercados interno e externo.

O BNDES voltou a financiar o setor farmacêutico depois de 20 anos fora do setor. O banco prega o fortalecimento da indústria nacional. "Uma concentração criteriosa no setor é bem-vinda", comenta Pedro Palmeira, chefe do departamento de produtos farmacêuticos.

No ano passado, o laboratório Aché adquiriu outra empresa nacional, a Biosintética. Na avaliação de Palmeira, outras fusões poderão sair do papel ainda este ano. Apesar do interesse em ampliar a nacionalização do setor, o BNDES quer, também, atrair multinacionais, atender mais empresas de pequeno e médio portes e financiar inovação.

Na área de semicondutores, que especialistas consideram o calcanhar-de-aquiles da política industrial, pela dificuldade de atrair novos empreendimentos, há um projeto em estudo para um empreendimento perto de US$ 350 milhões (o equivalente a R$ 800 milhões), em Minas Gerais. O projeto vem sendo capitaneado pelo governo estadual e poderá agregar grupos nacionais e estrangeiros. Embora não dê detalhes, o gerente do setor de indústria eletrônica, Maurício Neves, confirma que o projeto está sendo estudado.

Na área de software, o valor de investimentos da carteira atual está perto de R$ 300 milhões e pode chegar a R$ 400 milhões este ano. No setor, foram financiadas, por exemplo, a Microsiga, com entrada do banco no capital da empresa. Outra operação de financiamento e participação no capital foi aprovada para a CIT&T Software, no ano passado.