Título: 'Atenção para o Brasil é zero'
Autor: Fernando Dantas, João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2006, Economia & Negócios, p. B4

Presidente da Braskem constata indiferença em Davos

O presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, disse que a atenção ao Brasil no Fórum Econômico Mundial, em Davos, "é zero", se comparada ao destaque para a Índia e a China. "O Brasil não é tão pobre para receber a atenção dedicada à África nem tem um crescimento acelerado como o chinês ou indiano para ser destaque. Além disso, muitas empresas que estão descobrindo agora a China e a Índia já estão presentes há muito tempo no Brasil."

Grubisich, no entanto, disse estar otimista com as perspectivas econômicas do Brasil nos próximos anos. "Acredito que o Brasil entrou num ciclo de crescimento sustentável." Segundo ele, o câmbio deverá manter-se relativamente estável. "Houve uma mudança estrutural no Brasil, com o aumento e a diversificação das exportações, e isso não vai mudar."

O executivo observou que a valorização do real poderá levar alguns setores exportadores a direcionarem seus investimentos a países cujos custos de produção são mais baratos.

Sobre as eleições presidenciais deste ano, Grubisich acredita que serão marcadas por um intenso debate sobre o modelo de gestão do País, mas causarão muito menos nervosismo nos mercados do que em 2002.

Segundo ele, ainda é cedo para avaliar qual o candidato favorito à Presidência ou que atrairá o apoio da classe empresarial. "Depois de março, teremos um quadro mais claro. O PSDB deverá focar seu programa na busca da eficiência e Lula, se reeleito, terá de pagar a hipoteca social que não foi resgatada em seu primeiro mandato."

A estratégia do governo brasileiro de manter uma relação muito próxima da Venezuela e da Bolívia está rendendo frutos à Braskem. O grupo petroquímico brasileiro pretende fechar ainda neste ano acordos de parceria com os presidentes Hugo Chávez e Evo Morales para construção de fábricas aproveitando os recursos naturais dos dois vizinhos sul-americanos.

"Neste ponto, a geopolítica brasileira acaba rendendo uma vantagem para nós", disse Grubisich. O executivo espera até meados do ano fechar um acordo com o governo boliviano para construir uma fábrica de materiais plásticos perto da fronteira dos dois países, um investimento de US$ 1,4 bilhão a US$ 1,5 bilhão.