Título: Para o BID, desafio é crescer como a Ásia
Autor: Fernando Dantas, João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2006, Economia & Negócios, p. B4

Banco diz que AL precisa atrair mais investimentos

O desempenho das economias da China e da Índia é o desafio da América Latina, na avaliação do presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno. A expectativa das Nações Unidas para a região é de expansão de 4% neste ano, ante 5,6% dos demais países emergentes e de 6,5% para a Ásia.

"A situação mundial hoje é de queda nos juros e alta nos preços das commodities, então, por que não conseguimos crescer como os asiáticos?", observou Moreno. "Precisamos investir em capital humano e prosseguir com as reformas na América Latina se quisermos competir com China e Índia."

Segundo ele, nos últimos anos a maioria das autoridades latino-americanas tentou ver o crescimento chinês e indiano como pontos positivos para a região, mas hoje começa a ser visto como uma ameaça. "Parte da falta de crescimento na América Latina decorre do êxito da China e da Índia na atração de investimentos. São economias de escala e por isso precisamos nos integrar e pensar muito sobre como fazer isso. Não podemos mais perder tempo", afirmou o presidente do BID.

Moreno disse que as sociedades latino-americanas estão cansadas da agenda de reformas estruturais. "Em parte, é porque ainda não viram resultados das reformas feitas", disse.

Ele lembrou que a região passará por 12 eleições presidenciais nos próximos 18 meses, inclusive no Brasil, no México e na Colômbia. Mas ele aposta que isso não será obstáculo ao crescimento. "Esse fato é apenas uma demonstração da consolidação da democracia na região", observou. Para ele, a troca de governos não deve afastar investidores externos porque não haverá alterações bruscas na forma de conduzir as economias da região.

Para ele, por exemplo, a taxa de juros no Brasil deverá continuar em queda, mesmo em um período eleitoral. "Isso poderá ocorrer porque os fundamentos da economia são sólidos", afirmou, se recusando, porém, a comentar a situação do Paísl após as eleições e as mudanças que terão de ser feitas na economia.

Outro fator relevante para o crescimento da região é o investimento em infra-estrutura, mas ele admite que "não há espaço fiscal" para que os governos gastem o necessário para levar o plano adiante. "A América Latina precisa de US$ 80 bilhões por ano em investimentos em infra-estrutura e não há espaço fiscal. Por isso, precisamos desenvolver parcerias com o setor privado."