Título: Para ONU e UE, grupo tem de renunciar à violência
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2006, Internacional, p. A16

Instituições e países mediadores de paz também exigem que Hamas reconheça Israel

A ONU, a União Européia, os EUA e a Rússia - o chamado Quarteto de mediadores para a paz no Oriente Médio - concordaram ontem que Hamas tem de renunciar à violência se não quiser ficar isolado internacionalmente. "Nós reafirmamos a posição de que não se pode ter um pé no terrorismo e outro na política", afirmou a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, depois que ela e outros altos funcionários do Quarteto conversaram por telefone sobre o resultado das eleições palestinas. As potências mediadoras também exigiram que o Hamas reconheça Israel.

A UE, que classifica o Hamas de terrorista, é a principal doadora de ajuda financeira à Autoridade Palestina. Por isso, um bom relacionamento com os europeus será fundamental para o novo governo. Ontem Israel fez um apelo à UE para que tome uma "posição firme" contra um governo terrorista".

O primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, disse ser condição indispensável a renúncia à violência e o reconhecimento de Israel para que a França possa trabalhar com qualquer governo palestino. Para o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, o Hamas ganhou um mandato poderoso, "mas tem de decidir entre o caminho da democracia e o da violência".

O secretário da Liga Árabe, Amr Moussa, disse que um governo liderado pelo Hamas defenderia os interesses palestinos. "E o interesse dos palestinos é criar um Estado e fazer a paz", frisou. O chanceler egípcio, Ahmed Aboul Gheit, espera que o novo gabinete "impulsione o processo de paz e atenda às aspirações do povo palestino".

No mundo muçulmano a reação mais entusiasmada foi a do Irã, país de maioria persa, governado por uma teocracia islâmica. O porta-voz da chancelaria, Hamid Reza, disse que os "palestinos escolheram a resistência". O Irã não aceita a existência de um Estado judeu na região e é acusado de destinar armas e dinheiro para o Hamas.

O Itamaraty informou, numa nota, que o governo brasileiro ficou satisfeito com o transcurso das eleições palestinas em "completa tranquilidade". A nota não fez referência à vitória do Hamas. Mas a posição tradicional do Brasil em defesa da convivência pacífica e soberana dos dois países, dentro de fronteiras seguras e bem definidas, foi reforçada: "(O governo) espera que o processo democrático conduza ao estabelecimento do Estado palestino independente e soberano, em coexistência pacífica com Israel."