Título: Olmert, entre uma opção ruim e outra pior
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2006, Internacional, p. A14

O primeiro-ministro israelense em exercício, Ehud Olmert, está agora enfrentando uma crise de verdade, pois tem de optar entre uma má escolha e uma pior ainda. Se mostrar sinais de moderação ou abrandamento em relação ao Hamas depois da vitória deste nas eleições parlamentares palestinas, seu rival político, o presidente do Likud, Binyamin Netanyahu, baseará a campanha eleitoral de seu partido na acusação de que a retirada israelense de Gaza foi uma recompensa para o Hamas.

Por outro lado, se ameaçar cortar os laços com os palestinos, boicotando-os, atrasando ainda mais a entrega dos fundos a eles devidos ou impondo qualquer outra punição, Olmert se encontrará diante de uma pressão internacional cada vez maior para respeitar os resultados das eleições legítimas e democráticas e para impedir o colapso dos serviços sociais e públicos da Autoridade Palestina.

Nos últimos dias, Olmert vem fazendo um esforço para ganhar tempo - proibiu seus principais assessores de lhe apresentarem um plano de ação antes que os resultados oficiais das eleições palestinas fossem divulgados e impôs censura à discussão sobre o assunto. Mas essa tática só deve funcionar por alguns dias, e certamente não pode ser um substitutivo para uma política organizada.

Pode-se prever que, nos próximos dias, Olmert fará um esforço coordenado com com os Estados Unidos para aliviar a pressão internacional e, ao mesmo tempo, demonstrar uma posição doméstica dura para evitar a perda de votos para Netanyahu.

De qualquer forma, as verdadeiras implicações do resultado das eleições estarão evidentes a partir das ações do Hamas no futuro próximo - se a organização vai renovar os ataques suicidas ou seguir um novo caminho político. A maioria dos israelenses está mais interessada no perigo dos atentados suicidas do que na composição do Parlamento palestino.

Na frente política, a vitória do Hamas fortalece as posições do Kadima (partido fundado por Ariel Sharon ao se desligar do Likud) porque descarta qualquer possibilidade de negociação sobre um acordo permanente. A vitória do Hamas também aumenta o poder da teoria do Kadima de "sem parceiros", segundo a qual a única opção disponível para Israel é determinar unilateralmente a fronteira.

Tal medida incluirá a retirada gradual de assentamentos isolados enquanto é manatido o controle sobre a Cisjordânia e o Vale do Jordão, sob o argumento de que Israel precisa de "amplas margens de segurança", pois está diante de um governo do Hamas que deseja seu aniquilamento.

Por outro lado, a esquerda certamente culpará o governo do primeiro-ministro Ariel Sharon por seu papel nos resultados da eleição, por sua recusa em apoiar o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, e em negociar a libertação de prisioneiros com ele.

Na frente internacional, o governo Bush insistiu com a manutenção das eleições palestinas e preferiu promover a democracia no mundo árabe para combater o terrorismo. Os resultados provam que Israel estava certo quando advertiu os Estados Unidos de que a liberdade de escolha no mundo árabe levaria à liderança os movimentos extremistas islâmicos e não candidatos seculares, liberais.

Os americanos viram que são possível eleições com uma disputa verdadeira e uma mudança organizada de comando num Estado árabe, mas agora precisam encarar as implicações da votação num movimento hostil que emprega o terrorismo.

Autoridades européias estão pedindo uma reavaliação do Hamas de acordo com suas ações no governo. Se a trégua continuar, a Europa aumentará a pressão para que Israel reconheça os novos dirigentes da Autoridade Palestina e mantenha negociações com eles.