Título: Para líderes, PMDB ganha mais que todos com alianças liberadas
Autor: Christiane Samarco, Tânia Monteiro, Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2006, Nacional, p. A8

Também é certo que PT foi maior perdedor, pois candidatos da legenda devem ficar isolados nos Estados

Um dia depois de a Câmara ter derrubado, em primeiro turno, a verticalização nas coligações, líderes de vários partidos e peemedebistas de todas as alas avaliaram que o PMDB foi a sigla mais beneficiada com a queda da regra que limita as alianças para eleger governadores ao modelo da parceria fechada na chapa presidencial. Não por acaso os 78 deputados do PMDB presentes à sessão de quarta-feira votaram a favor da proposta de emenda constitucional que libera as alianças.

"O grande beneficiário é o PMDB, porque tanto os governistas como o grupo de Anthony Garotinho e a ala de oposição favorável à candidatura do governador Germano Rigotto (RS) tiram proveito da desverticalização", resumiu o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), ao lembrar que já são 16 os candidatos a governador pelo PMDB, todos livres para fazer as mais diversas parcerias.

No PT, foi instalada a polêmica. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em conversas reservadas, que com ou sem verticalização será o candidato mais forte. Ele ficou satisfeito com o resultado da votação, mesmo tendo a maioria da bancada petista contra o Planalto.

Na tentativa de aparar as arestas entre partido e governo, os ministros Jaques Wagner (Relações Institucionais) e Dilma Rousseff (Casa Civil) jantaram na quarta-feira com o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

No diagnóstico do governo, o fim da verticalização beneficia a candidatura de Lula a um segundo mandato. Motivo: aliados que antes não apoiariam o presidente por problemas regionais podem agora se juntar a ele e ficar à vontade para compor com quem bem entenderem nos Estados. É o caso do PSB, do PL e do PTB.

Petistas torcem o nariz para alianças com esses dois últimos partidos, envolvidos no escândalo do mensalão, mas Lula acha que precisa deles. "Não havendo barreira, as alianças serão fechadas em torno de um programa e da defesa do governo. Quem estiver do nosso lado estará por comprometimento, não por imposição de um dispositivo legal", afirmou Wagner.

Para a maioria petista, no entanto, o PT foi o grande perdedor da votação de quarta. "Quebrada a verticalização, não podemos excluir o cenário desastroso para o PT, que é o de um leque amplo de partidos apoiando Lula e os candidatos petistas isolados nos Estados", advertiu o deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF). "Vai virar a casa da mãe Joana", completou o senador Delcídio Amaral (PT-MS).

MINAS

Que o diga o PT do prefeito Fernando Pimentel, de Belo Horizonte. Em Minas, o partido pode acabar sozinho na briga pelo governo do Estado. O governador Aécio Neves (PSDB) trabalhou como poucos para derrubar a verticalização, de olho na aliança da reeleição. Em tempo de parceria limitada pela chapa presidencial, Aécio elegeu-se por uma coligação de 9 legendas, apoiado por mais 7. Agora que 70% do eleitorado quer a reeleição, ele trabalha para obter o aval de 18 ou 20 partidos. Para tanto, ofereceu a vice a ninguém menos do que o atual ministro da Saúde, deputado Saraiva Felipe, do PMDB.

Considerado uma federação de caciques estaduais, o PMDB é aliado do PT na Paraíba e no Paraná, e adversário ferrenho dos petistas no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal. Da mesma forma, apóia o PFL em Pernambuco, mas é inimigo do PFL na Bahia. No Ceará, onde não disputará o governo e vai lançar o deputado Eunício Oliveira ao Senado, tornou-se fiel da balança, seja para facilitar a reeleição do governador, o tucano Lúcio Alcântara, ou para dar vitória a Cid Gomes, do PSB.

Para a cúpula peemedebista, o grupo de Garotinho gostou do fim da verticalização, regra que ameaçava a candidatura própria. Já a ala que apóia Rigotto festejou o fato de ganhar tempo, até a convenção de junho. Os governistas do PMDB também ganharam prazo para desmontar a candidatura própria, caso Lula cresça nas pesquisas.