Título: Lula diz que dados do IBGE sobre economia acabarão com 'urucubaca'
Autor: Wilson Tosta e Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2006, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou seu discurso ontem, durante cerimônia de inauguração de uma subestação de energia elétrica de Furnas na cidade de Viana (ES), para voltar a acusar a oposição de torcer contra seu governo. Em tom de campanha eleitoral, Lula disse que os dados de crescimento da economia vão desmentir a expectativa de seus adversários políticos.

"Os dados do IBGE que começam a sair aqui e ali vão acabar de vez com a urucubaca que colocaram neste governo", afirmou. "Em 2006, quando fechar o ano, vamos ver que o emprego cresceu, a renda cresceu, o poder de compra cresceu e que vão continuar crescendo, com a vantagem de que a inflação vai continuar sendo controlada a qualquer preço, porque ela não prejudica os ricos, e sim os pobres, que ainda recebem o salário mínimo."

Lula também criticou os que não acreditavam em seu governo. "Muita gente achava que não daria certo. Muitos diziam: 'Este país não vai dar certo nas mãos desses meninos.' E não só deu como é possível perceber isso claramente", ressaltou.

CANDIDATURA

Apesar de gritos, por parte de manifestantes, de "Lula lá" e "é Lula outra vez, 2006", o presidente disse que considera cedo para anunciar se será candidato ou não à reeleição. "Acho que quem está governando não tem de ter preocupação de dizer que é candidato", discursou. "Porque é muito cedo para alguém definir que é candidato. A oposição tem mais pressa que a situação. Então, é normal. Se quiserem apressar a decisão, definam. Eu particularmente não tenho nenhuma razão, não tenho clareza sobre a questão da reeleição."

Em seu discurso, o presidente comemorou a aprovação, em primeiro turno pela Câmara, da proposta de emenda constitucional que acaba com a verticalização de alianças eleitorais. Segundo ele, o fim da regra, que impedia alianças estaduais que contradissessem a coligação para disputar a Presidência, torna as coisas mais claras na política e impedem a "bigamia".

"Eu sinceramente não aceito a bigamia em política, ou seja, um partido fingir que está apoiando", disse. "É melhor escancarar e ver quem é quem neste país, quem apóia quem, quem está com quem, à luz do dia, e não você pensar que alguém está com você e não estar depois. Então, é melhor acabar com isso e fazer as coisas muito abertas, muito à vontade."

Depois da onda de críticas ao Congresso por causa da baixa produtividade dos parlamentares durante a convocação extraordinária, Lula também elogiou outros projetos aprovados, como os que criam a Super-Receita Federal e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Ele disse esperar que o Senado, para onde as propostas aprovadas serão encaminhadas, tenha a mesma "boa vontade" que a Câmara.

MANIFESTAÇÕES

Duas manifestações, uma a favor, outra contra o governo, marcaram a solenidade. A primeira foi protagonizada por oito estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo, que conseguiram driblar a segurança e, atrás de uma cerca de arame, estenderam faixas de protesto contra a atuação das autoridades nas disputas de terras entre índios e a empresa Aracruz Celulose. Eles chegaram a cerca de 50 metros do púlpito onde o presidente discursou, sem serem revistados. "Subimos com os engravatados, de van", riu um dos ativistas. Eles gritaram palavras de ordem, referências ao mensalão e ao publicitário Marcos Valério. Durante o discurso do governador Paulo Hartung (PMDB), chamaram-no aos berros de "mentiroso".

Cerca de meia hora depois da chegada dos jovens, dez ativistas do Sindicato da Construção Civil do Estado entraram, sem ostentar crachá, na área reservada para a solenidade e estenderam faixas de apoio ao governo Lula e uma bandeira do PT. Pela forma como se colocaram, obstruíram parcialmente a outra manifestação, deixando-a pouco visível para fotógrafos e cinegrafistas.

Quando os jovens da primeira manifestação chegaram, funcionários da Presidência impediram o acesso de jornalistas. Alegaram motivos de segurança, já que o presidente estava chegando - curiosamente, os recém-chegados estavam muito mais perto de Lula.