Título: Nem acordo salva Brant e Luizinho no conselho
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2006, Nacional, p. A6

Parecer pedindo cassação de deputado do PFL foi aprovado por diferença de apenas um voto, enquanto placar contra parlamentar do PT foi de 9 a 5

O Conselho de Ética da Câmara aprovou ontem a recomendação de cassação dos mandatos dos deputados Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP) em meio à suspeita de um acordão patrocinado por PFL, PSDB e PT. Apesar dos esforços, os dois parlamentares foram condenados no conselho e serão submetidos ao julgamento do plenário da Câmara. O deputado tucano Jutahy Junior (BA) ocupou a vaga de conselheiro por apenas uma hora, para votar em favor de Brant. "Não vim dar o voto, vim dar o testemunho. O deputado Brant orgulha esta Casa. Vim votar numa convicção", disse Jutahy.

Pela manhã, houve empate de 7 a 7 na votação do processo de Brant e o presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), decidiu em favor da cassação. Brant teve os votos dos três conselheiros do PFL, dos dois do PSDB, da conselheira do PT e de um conselheiro do PP. Quatro horas mais tarde, dois deputados do PFL, um do PSDB e os mesmos do PT e do PP votaram pela absolvição de Luizinho, mas foram vencidos em um placar de 9 a 5.

A rápida passagem de Jutahy pelo conselho e a defesa contundente de Brant feita pelo líder da bancada tucana, Alberto Goldman (SP), que não tem direito a voto, provocou o alerta de alguns conselheiros, como Orlando Fantazzini (PSOL-SP): "É a prova do acordão, um acordo político-eleitoral do PSDB com o PFL. Não estão julgando em razão do aspecto ético, mas do futuro, das eleições."

Goldman reagiu às suspeitas. "Aqui não há questões partidárias, seria descabido decidir em função dos partidos", afirmou, ao iniciar seu discurso em defesa de Brant, que definiu como parte "do que tem de melhor na sociedade brasileira".

A única petista titular no conselho, Ângela Guadagnin (SP), disse que votou na absolvição de Brant, um adversário político, por "coerência", já que tem defendido uma pena mais branda em todos os processos decorrentes do escândalo do valerioduto, com exceção do que condenou o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que Ângela considerou merecedor da cassação. O deputado Benedito de Lira (PP-AL) votou em favor de Brant e de Luizinho, ao contrário de seu companheiro de partido Pedro Canedo (GO), relator da cassação de Luizinho e favorável à condenação de Brant.

Unidos na votação em favor de Brant, PSDB e PFL se dividiram na de Luizinho, o que, para tucanos e pefelistas, foi "a prova" de que não houve acordão. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), no entanto, não fez a mesma interpretação. "Vi uma movimentação forte do PSDB e do PFL. Nós somos nós, nossas circunstâncias e nossos partidos. Temo que o conselho perca sua autonomia."

O tucano Mendes Thame (SP), que estava em São Paulo para exames médicos pela manhã, chegou a tempo de votar pela cassação do deputado petista, substituindo Jutahy Junior. Jutahy assumiu como titular o lugar do deputado tucano Gustavo Fruet (PR), que renunciou à vaga na noite de ontem, com a justificativa de que está muito ocupado como sub-relator da CPI dos Correios. "Já deveríamos ter feito a substituição", reconheceu Goldman.

Depois de votar a favor de Brant, Jutahy anunciou que não continuará no conselho e um novo conselheiro será indicado pelo PSDB.