Título: Palocci nega acusações, mas evita se comprometer a abrir sigilo
Autor: Rosa Costa, Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2006, Nacional, p. A4

'Vou ver, vou estudar', disse o ministro na CPI dos Bingos, onde também não quis atacar ex-assessores

Num depoimento de seis horas à CPI dos Bingos, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, negou envolvimento em qualquer tipo de irregularidade, seja no governo federal, na campanha do PT em 2002 ou na prefeitura de Ribeirão Preto. Ele foi taxativo ao dizer que o PT não usou caixa 2 na eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao negar a doação de US$ 3 milhões de Cuba para a campanha e ao rebater, entre outras, a acusação de que teria intermediado acordo com empresários do jogo para legalizar os bingos no País, em troca de R$ 1 milhão para o partido.

Ele não quis se comprometer, porém, a abrir voluntariamente seu sigilo telefônico à comissão, conforme proposta feita pelo senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT). "Vou ver, vou estudar, conversar com o presidente e o relator da CPI", disse, sem esconder o desconforto. Antero está empenhado em mostrar que Palocci manteve contato intenso com antigos auxiliares hoje acusados de cometer irregularidades. Avalia que o melhor para isso é quebrar o sigilo telefônico do ministro. "Palocci fugiu do assunto", disse o senador depois do depoimento. "Ele pode conversar sobre qualquer outra coisa menos sobre isso. Com a quebra do sigilo, saberíamos se ele é culpado ou inocente, como alega."

O ministro também evitou atacar ex-assessores que o acusaram de participar de irregularidades, como os advogados Rogério Buratti e Vladimir Poleto. Palocci só reagiu quando interpelado sobre dois servidores da prefeitura de Ribeirão Preto que perante o Ministério Público acusaram sua administração de alterar as planilhas de limpeza pública para superfaturar os valores pagos à empresa Leão Leão. "Posso suspeitar que eles fizeram a alteração por conta", alegou.

Com relação à supervisora que autorizava os pagamentos, Izabel Bordini, mulher do diretor do Serpro Donizette Rosa, que na época era presidente do PT em Ribeirão, o ministro foi enfático em afirmar que "confiava na sua integridade". No depoimento ao Ministério Público, os dois funcionários contam que Izabel dizia haver "ordens superiores" para superfaturar o pagamento da empresa de limpeza.

SITUAÇÃO DELICADA

"Como ministro, não tenho dúvidas de que o ministro faz a sua parte, mas a influência de seus ex e atuais assessores deixa a desejar em relação a alguns órgãos subordinados ao Ministério da Fazenda", comentou o presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), referindo-se aos termos utilizados por Palocci para "aliviar" pessoas que estão sendo investigadas pela comissão. Para o senador Jefferson Péres (PDT-AM), Palocci está numa situação "muito delicada" pois é alvo de diversas acusações. "Quando se ocupa um cargo importante é preciso repetir o velho ditado da mulher de César e não apenas ser honesto, mas também parecer honesto", observou.

O senador José Jorge (PFL-PE) questionou-o sobre a nomeação para o ministério de "pessoas desqualificadas, cujos depoimentos à comissão mostraram que não tinham condições nem técnicas nem éticas para exercer a função". E citou o ex-presidente da Casa da Moeda Manoel Severino, que recebeu dinheiro do chamado valerioduto. O ministro disse que não iria fazer "juízo de valor" a respeito de nenhum de seus atuais ou ex-auxiliares.

Em nenhum momento, Palocci chamou seus acusadores de "mentirosos", mesmo quando interpelado nesses termos. Demóstenes Torres (PFL-GO) rebateu a alegação do ministro de que vai esperar pelo fim das ações para processar os que o acusam. Argumentou que até lá elas estarão prescritas. Torres também acusou o assessor pessoal de Palocci, Ademirson Ariosvaldo da Silva, de ter mentido sobre os telefonemas que recebeu no período de renovação do contrato entre a Caixa Econômica Federal e a Gtech. "Temos um programa que confirmou tudo: foram 1.411 ligações para o Poleto e 811 para o Ralf Barquete."