Título: Mittal oferece US$ 23 bi pela Arcelor
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2006, Economia & Negócios, p. B8

Se o grupo europeu aceitar a proposta, a nova companhia controlará 10% da produção mundial do aço

A Mittal Steel Co., maior siderúrgica do mundo, anunciou ontem uma inesperada oferta de 18,6 bilhões (US$ 22,8 bilhões) pela rival Arcelor SA. A transação criaria uma potência global que superaria de longe as principais concorrentes.

A oferta hostil é a maior da história da siderurgia e permitiria que a companhia combinada produzisse mais de 100 milhões de toneladas por ano - cerca de 10% da quantidade mundial e mais que o triplo da capacidade da rival mais próxima, Nippon Steel Corp.

A Mittal oferece quatro ações próprias e 35,25 em espécie por cada cinco títulos da Arcelor, por isso se trata de uma transação principalmente acionária e não em dinheiro, como era a tendência do setor. A oferta avalia as ações da Arcelor em 28,21, o que representa um acréscimo de 27% sobre o preço de fechamento dos títulos do grupo europeu ontem, na Bolsa de Paris, e de 31% sobre a cotação média do mês passado.

Os planos da Mittal também derrubam o recente acordo para a compra da Dofasco Inc. pela Arcelor por US$ 4,740 bilhões. A Mittal afirmou que venderá a siderúrgica canadense para a alemã ThyssenKrupp AG - que competia com a Arcelor pela compra - se conseguir tomar o controle da Arcelor.

Embora a oferta em dinheiro e ações tenha inicialmente surpreendido os mercados, as ações do aço se revigoraram no mundo, enquanto analistas afirmavam que a fusão representaria uma boa maneira de lidar com os problemas conflitantes da capacidade refreada durante um declínio econômico e da demanda crescente da China e da Índia.

"Não se trata de criar uma gigante", disse o executivo-chefe e presidente da Mittal, Lakshmi Mittal, numa entrevista coletiva em Londres. "Trata-se de criar a sustentabilidade da indústria do aço." A Arcelor se mostrou bem menos entusiasmada com o plano, apesar das afirmações de Mittal de que as duas companhias têm a mesma visão sobre as fusões no setor e haveria um lugar para os executivos da Arcelor na empresa combinada.

"A Arcelor sublinha o caráter hostil desta iniciativa, que ocorre sem discussões ou consultas prévias entre as duas companhias", afirmou a empresa num comunicado.

Antes, Mittal reconheceu que o executivo-chefe da Arcelor, Guy Dollé, rejeitara a idéia de uma fusão durante uma breve conversa no último dia 14. Ele acrescentou que já começara a falar com acionistas da Arcelor sobre a transação.

Considerado o terceiro homem mais rico do mundo em 2005, pela revista Forbes - só perde para o presidente da Microsoft, Bill Gates, e para o investidor Warren Buffet - Lakshmi Mittal quer que Luxemburgo seja sede da companhia, mas isso está sujeito à aprovação das autoridades competentes. A Mittal Steel tem sede em Roterdã, na Holanda, enquanto a Arcelor está sediada em Luxemburgo.

Analistas disseram que a abordagem não solicitada poderia desencadear uma guerra de ofertas ou obrigar a Mittal a elevar o preço.

"Não acho que a história tenha terminado", afirmou Hilary Cook, da Barclays Stockbrokers. "Outros no setor acompanham isso. Eles não deixarão a Mittal comprar a Arcelor barato." Mittal, que espera que o acordo dê à companhia combinada uma capitalização de mercado de US$ 40 bilhões ( 32,7 bilhões) e sinergias anuais de US$ 1 bilhão ( 816 milhões), disse não ter intenção de elevar a oferta, mas não negou a possibilidade categoricamente.

Richard Brakenhoff, analista da Rabo Securities, disse que a iniciativa inesperada foi "ambiciosa, mas inteligente", observando que a Mittal, na transação, iria adquirir numerosos ativos na Europa e ingressar na América do Sul.

"Mesmo produzindo 100 milhões de toneladas, eles não ganhariam poder de preço, pois o mercado ainda está muito fragmentado", afirmou Brakenhoff. "Eles ainda são muito pequenos para tanto, mas ganhariam uma enorme vantagem sobre as concorrentes em termos de economia de custos e know-how nas áreas automobilística e da construção."

A companhia combinada teria 269 mil empregados, 61 fábricas em 27 países e presença em cinco dos nove principais mercados do aço.