Título: China declara embargo a carnes brasileiras
Autor: Fabíola Salvador , Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2006, Economia & Negócios, p. B7

Importação é muito pequena, porque, apesar das promessas chinesas, barreiras permanecem; medida pode ser vista como desfeita de Pequim

A China suspendeu ontem as importações de carne bovina, suína e de ovinos do Brasil em resposta ao surgimento de focos de febre aftosa registrados no País em 2005, informou o Ministério da Agricultura. Foram confirmados pelo governo federal 33 casos da doença em Mato Grosso do Sul e um no Paraná. A Embaixada do Brasil em Pequim comunicou ontem o embargo à Secretaria de Relações Internacionais do ministério.

A medida teria sido publicada na página eletrônica do Departamento de Quarentena Animal e Vegetal do governo da China há alguns dias, mas só agora traduzida pela embaixada. Em dezembro de 2005, o ministério já havia recebido a reclamação de um exportador brasileiro, cujos embarques de gelatina bovina haviam sido retidos pela China.

As exportações brasileiras de carne bovina e suína para a China são muito pequenas. Em 2005, a China importou US$ 2,370 milhões em carne bovina do Brasil - mas, desse montante, apenas US$ 150 mil foram de carne in natura, o restante foi de miúdos bovinos. Só para comparar, a Rússia, maior cliente do Brasil, importou US$ 530 milhões. Já de carne suína, a exportação para a China foi de US$ 3,34 milhões em 2005. A Rússia, o maior comprador, importou US$ 805 milhões.

Em sua visita ao País em 2004, o presidente chinês, Hu Jintao, assinou protocolos para abrir o mercado chinês para a carne brasileira. Mas, até hoje, os protocolos não saíram do papel.

Na prática, a burocracia ainda é muito grande e, por causa das barreiras sanitárias, o exportador brasileiro vende volumes irrisórios de carne para os chineses. A maneira de contornar a barreira é exportar indiretamente para a China, via Hong Kong, de forma ilegal.

"Embargaram o quê, se nós não exportamos carne para lá?", foi a reação de Antonio Camardelli, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), ao ser informado do embargo.

Apesar de não ter grandes conseqüências econômicas, por causa dos pequenos volumes envolvidos, o embargo pode ser interpretado como mais uma "desfeita" por parte dos chineses. Não contentes em barrar a carne brasileira com excesso de burocracia, declaram embargo.

No total, 55 países impuseram algum tipo de restrição à carne brasileira desde o início da crise da aftosa, em outubro passado.