Título: Otimismo da indústria é o mais baixo desde 99
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2006, Economia & Negócios, p. B6

Ressaca do final de 2005 ainda faz efeito, mostra CNI

Desde 1999 os industriais não começam o ano tão pouco otimistas. A pesquisa Sondagem Industrial, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que eles estão confiantes em relação ao que vai ocorrer com a economia e com seu próprio negócio nos próximos seis meses. No entanto, a taxa medida pela CNI é a mais baixa dos últimos oito anos.

Foram ouvida 1.452 pequenas, médias e grandes empresas, entre 4 e 24 de janeiro. As respostas recebem pontos que variam de zero a 100, sendo 50 a linha divisória entre as avaliações positivas e negativas. Quanto mais perto dos extremos, maior é a intensidade do otimismo ou do pessimismo.

Para os próximos seis meses, o indicador de como estarão as empresas foi 66,1 pontos, sobre a economia em geral foi 58,2 e sobre o setor de atividade em que atuam foi 59,8. Todos os números, apesar de positivos, foram os mais baixos da série de sondagens realizadas pela CNI no início de cada ano, desde 1999.

A razão para ou pouco entusiasmo é uma espécie de ressaca do final de 2005. A pesquisa da CNI revela que, na avaliação dos empresários, a produção industrial praticamente não cresceu no quarto trimestre em relação ao terceiro - contrariando as esperanças do governo após a queda do PIB em setembro.

A causa do desempenho fraco foi o excesso de estoques acumulados ao longo dos três primeiros trimestres. No quarto, a produção não cresceu porque ainda havia mercadorias estocadas. Parte desses bens foi vendida no final do ano, mas ainda permanece uma reserva acima da esperada. Por essa razão, o desempenho da indústria no início deste ano também deve continuar morno. Esse movimento, porém, abrirá espaço para uma retomada mais vigorosa em meados do ano, segundo avaliou o coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Renato Fonseca.

Para a CNI, as expectativas do empresariado tendem a melhorar ao longo do ano porque há variáveis que ainda estão em andamento, devendo trazer efeitos positivos no segundo semestre. "Há previsão de aumento de gastos públicos por ser ano eleitoral, as altas taxas de juros estão em trajetória de queda e continua a expectativa de um comércio exterior aquecido." Por isso, a CNI aposta em uma melhoria das expectativas dos industriais na próxima sondagem que será feita em abril.

Os indicadores de expectativas futuras deste ano também ficaram abaixo dos apurados no início de 2005. "No ano passado, as expectativas eram realmente muito elevadas e, por isso, a frustração foi tão grande", avaliou Fonseca.

A sondagem mostrou ainda que diminuiu a tendência de demissões pelas indústrias. O indicador sobre o número de empregados ficou em 48,8 pontos ante 48,2 da sondagem anterior o que, para a CNI, revelou que, apesar de não haver ainda uma tendência de novas contratações, pelo menos mostrou que os empresários interromperam a intenção de demitir.

A estabilidade sobre admissões e demissões fica mais clara entre os dados das grandes empresas, já que o indicador desse segmento subiu de 49,8 para 50,4 pontos.