Título: 'Brasil só pensou na inflação'
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2006, Economia & Negócios, p. B3

Para Stiglitz, Nobel de Economia, juro está alto demais

Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, disse ontem que o Brasil levou o combate à inflação longe demais, e que este é um dos problemas que impedem o crescimento do País. "O Brasil levou a preocupação com a inflação longe demais, as taxas de juros reais estão altas demais, e é muito difícil ter crescimento assim", disse, ao fim da ceia latino-americana, evento do Fórum Econômico Mundial voltado à região.

Criticando o Consenso de Washington, Stiglitz disse que um dos fatores que fazem com que a China e a Índia cresçam mais que a América Latina é a política industrial. Neste caso, porém, ele excluiu o Brasil, dizendo que o País tem uma boa política industrial, numa referência às iniciativas que levaram as exportações brasileiras a duplicar em três anos e aos incentivos à Embraer.

Observou que, nos Estados Unidos, o ex-presidente Bill Clinton ficou muito preocupado quando os juros nominais subiram para o intervalo entre 4% e 5%, com juro real de 2%, por causa dos efeitos negativos que isto poderia trazer para a economia. "Se alguém dissesse que iam para 12%, não posso imaginar o que ele faria", acrescentou. Ele afirmou que muitos analistas acham que os atuais prêmios de risco dos países emergentes estão baixos demais e não são sustentáveis, e que, caso haja uma reversão, a situação dos juros no Brasil pode ficar ainda mais complicada.

O prêmio Nobel lançou diversas indagações: se o crescimento do comércio exterior do Brasil é um grande sucesso, porque o País não cresce mais? Por que a Turquia, que teve uma crise em época próxima à do Brasil, tem fundamentos piores hoje, e cresce mais? Porque a China e a Índia crescem mais rapidamente, se a América Latina tem tantos talentos e empreendedorismo? Questões que incomodaram os representantes da América Latina durante todo o Fórum Econômico.