Título: Banco Central vê Chile como modelo para o Brasil
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2006, Economia & Negócios, p. B3

Para Henrique Meirelles, país é o exemplo mais importante de crescimento, e não a China ou a Índia

O Chile, e não a China e a Índia, deve ser o modelo para acelerar o crescimento econômico do Brasil, disse ontem em Davos o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. "O exemplo do Chile é o mais importante, porque é latino-americano e próximo do Brasil", disse Meirelles em entrevista à imprensa, num intervalo na maratona de encontros com investidores e autoridades no Fórum Econômico Mundial.

Meirelles foi cauteloso ao comentar a declaração do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, no dia anterior, de que uma das principais razões pelas quais a China e a Índia crescem mais do que o Brasil é que estes países - especialmente o primeiro - têm metas de crescimento e taxa de câmbio, o que estimula os investidores. O presidente do BC, porém, deixou claro que, ao contrário de Furlan, não acha que a China e a Índia sejam bons parâmetros para avaliar o desempenho do Brasil.

No caso da China, Meirelles observou que "é difícil fazer comparações com um país com mais de 1 bilhão de habitantes, regime autoritário, sem benefícios sociais, sem garantias, sem previdência e que, em última análise, controla o suprimento de mão-de-obra". Para o presidente do BC, o crescimento chinês deve ser celebrado, mas o país tem "estrutura muito diferente da do Brasil, sem todos os investimentos na área social e de previdência, e sem as transferências para distribuir renda".

Quanto à Índia, Meirelles disse que a sua história de crescimento, embora bem-sucedida recentemente, é menos impressionante que a chinesa. O país estaria colhendo investimentos de décadas em educação, que o presidente do BC apóia, mas concentrados na formação universitária, o que piorou a distribuição de renda.

Além disso, ele disse que o crescimento da China e da Índia é em boa parte explicado pelo fato de que estes países estão incorporando grandes massas de habitantes ao mercado de trabalho urbano. Para Meirelles, este processo permite forte crescimento por 20 ou 30 anos, seguido de estabilização.

Quanto ao Chile, o presidente do BC observou que o país passou por grandes reformas nas últimas décadas e hoje tem despesa pública abaixo de 20%, e deve em alguns anos eliminar a sua dívida pública. Ele citou ainda a privatização da previdência.

Para Meirelles, a previdência chilena tornou-se "uma grande fornecedora de recursos, de poupança para financiamento, o que faz com que as taxas de juros tenham um comportamento diferente de países onde o setor da previdência e o governo sejam grandes tomadores".

O Brasil, segundo Meirelles, ainda tem reformas importantes a realizar. "Tudo se consegue com trabalho duro e não será um órgão ou outro, inclusive o BC, que numa mágica fará com que o País comece a crescer."

O presidente do BC mostrou otimismo em relação à economia brasileira, e disse que os fundamentos estão bem mais sólidos para enfrentar turbulências externas e internas do que em 2002, ano da eleição de Lula.

Meirelles mostrou confiança na projeção do BC de que o Brasil vai crescer 4% em 2006. "Nosso posicionamento no BC é que a economia está numa trajetória de recuperação muito forte."