Título: Desafio de ex-acadêmico é manter a unidade
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2006, Internacional, p. A18

Ismail Haniye, o principal candidato do Hamas ao posto de primeiro-ministro, tem 44 anos, é casado e pai de 11 filhos. Quando chegou ao posto eleitoral do campo para votar, na quarta-feira, pessoas se aglomeraram para saudá-lo com deferência.

Com um tórax avantajado e uma barba grisalha cuidadosamente aparada, mantém algo do ar sóbrio de um acadêmico que ele um dia foi. Ele fala por frases curtas e concisas, mantendo deliberadamente a voz tão inalterada quanto o olhar.

Foi um dos poucos membros da alta hierarquia do Hamas que escapou das execuções israelenses durante a campanha concertada de "assassinatos seletivos" iniciada no verão de 2003 e encerrada há cerca de um ano. Como muitos de seus contemporâneos no Hamas, Haniye foi marcado pela condição de refugiado.

Durante a guerra de independência de Israel, seus pais fugiram do que é agora a cidade israelense de Ashkelon.

Haniye nasceu e foi criado no campo de refugiados de Shati, na Cidade de Gaza, um cipoal de vielas malcheirosas onde ele ainda vive. Ele, que fala um inglês passável, mas prefere dar entrevistas em árabe, graduou-se em literatura árabe na Universidade Islâmica de Gaza, da qual posteriormente se tornou reitor. Foi ali que ele se iniciou na política, gravitando para um movimento que mais adiante se tornaria o Hamas.

Foi preso pela primeira vez em 1987, no início da primeira intifada (levante palestino contra a ocupação israelense). Sua primeira estada na prisão foi curta, mas foi rapidamente seguida por uma pena de seis meses em 1988 e uma sentença de três anos iniciada em 1989. Agora tem a missão de liderar um movimento dividido e de tentar reabilitar a imagem de um grupo conhecido pelos atentados que mutilaram e mataram centenas de israelenses.