Título: Mundo árabe se divide
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2006, Internacional, p. A12
Entre os árabes, a reação à doença que afastou Ariel Sharon do poder em Israel foi diferenciada. A mais agressiva partiu do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Há pouco mais de um mês, o ex-prefeito de Teerã havia conclamado o mundo árabe a ''riscar Israel do mapa''. Ontem, manteve a mesma retórica:
- Estou torcendo para que a notícia de que o criminoso de Sabra e Chatila se uniu aos seus ancestrais chegue logo - declarou Ahmadinejad a um grupo de clérigos de Qom, de acordo com a agência oficial Isna.
A menção iraniana diz respeito ao massacre de mais de 300 palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, no Líbano, em 1982. A ação é atribuída à Falange, facção libanesa de extrema-direita, aliada do Exército israelense na ocupação. Sharon, então ministro da Defesa, ignorou o risco da invasão. Na noite do massacre, o general estaria em um posto militar perto dos campos, mas nada fez para impedir a ação.
No afã de dar a informação, pelo menos duas redes árabes - a Future, do Líbano, e a Al Arabiya, de Dubai - de tevê chegaram a noticiar a morte do premier. A Al Jazira, por sua vez, fez uma longa entrevista com Raanan Gissin, um dos principais assessores de Sharon. No Iraque, o assunto não foi mencionado. Egito e Jordânia, que formam a ala moderada, registraram o fato sem maiores comentários.
A cobertura intensiva demonstra o sentimento entre os povos habituados a encarar o premier como adversário. E expôs a divisão entre a crítica ao perfil agressivo e a lembrança ao homem que devolveu Gaza.
Em comum, no entanto, havia a visão de que o afastamento do primeiro-ministro teria maior impacto em Israel (com eleições em 28 de março) e nos territórios palestinos (eleições em 25 de janeiro) do que nos países vizinhos.
''Sharon às portas da morte... e Israel à beira da convulsão política'', dizia o libanês As Safir.
Para o analista jordaniano Labib Kamhawi, a situação é muito delicada.
- Se Deus quer paz entre israelenses e palestinos, então Sharon não pode morrer. Não há outro político em Israel capaz de implementar isso.
Em Damasco, radicais palestinos atribuíram a doença de Sharon ''aos Céus''.
- Digo que Deus é grande e capaz de dar a vingança exata a esse açougueiro. Louvamos a Ele por esse presente de Ano Novo - afirmou Ahmed Jibril, líder da Frente Popular para a Libertação da Palestina.
A deputada palestina Hana Ashrawi pensa diferente:
- Sharon foi um líder forte carismático que conduziu a política através da direita e do extremismo. Agora é preciso que alguém assuma pela paz, para que os radicais não seqüestrem o processo - avaliou.
O advogado jordaniano Ali Abul-Sukar está cético.
- Todos os líderes de Israel são iguais quando o assunto é a causa palestina. Se Sharon se foi da arena política, existem muitos outros Sharons. O único ponto positivo é a saída de um general com as mãos sujas de sangue - analisa.