Título: Fundos ajudaram valerioduto, diz ACM Neto
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2006, Nacional, p. A6

Recursos de fundos de pensão de empresas estatais foram usados para fins políticos, afirma o sub-relator da CPI dos Correios, deputado ACM Neto (PFL-BA), que investiga as coincidências entre as aplicações realizadas por 14 fundos de pensão no BMG e no Banco Rural com os saques feitos das contas de Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como o operador do mensalão.

Em seu relatório final, que será apresentado dia 15 de março, o deputado anunciou que vai pôr o cruzamento das aplicações no BMG e no Rural, instituições financeiras usadas no valerioduto, e os saques feitos por políticos para o mensalão.

"Vou casar as aplicações no BMG e no Rural com a data das liberações do mensalão", disse ontem ACM Neto. "Não tenho dúvidas de que houve recursos de fundos de pensão para atender a interesses políticos." Relatório parcial da sub-relatoria de fundos de pensão, apresentado em dezembro, apontou perda de R$ 729 milhões nas operações financeiras feitas por 14 entidades de previdência privada. Os fundos Prece - dos funcionários da Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae) do Rio de Janeiro - e Nucleos - de estatais de energia nuclear - foram os que apresentaram maiores perdas em operações com corretoras nos últimos cinco anos.

Segundo ACM Neto, dos 14 fundos de pensão investigados pela CPI dos Correios, 4 tiveram perdas "inquestionáveis". Essas entidades de previdência privada vão ser enquadradas por irregularidades e haverá o pedido de indiciamento da diretoria. "Na maioria dos casos de perdas, houve interferência política. É evidente que em alguns casos vamos ter de fazer o enquadramento jurídico e propor o indiciamento", afirmou. Ele não revelou quais fundos serão punidos pela CPI.

O sub-relator adiantou que pretende propor a convocação de Marcelo Sereno, ex-secretário de Comunicação do PT e ex-assessor de José Dirceu na Casa Civil. Sereno teria influência sobre fundos de pensão de estatais. Na Nucleos, por exemplo, pediu à diretoria que recebesse representante de uma gestora de recursos. Sereno teria sido o responsável pela indicação de Luiz Carlos dos Santos Vieira, ex-presidente da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), uma das patrocinadoras do Nucleos.

A CPI dos Correios ouviu ontem os sócios da corretora Euro, que fez operações que geraram perdas para os fundos Prece, Nucleos e Postalis (dos Correios). Os sócios da Euro, Jorge Luiz Gomes Chrispim e Sérgio de Moura Soeiro, não esclareceram as razões das perdas. A CPI também ouviu ontem dirigentes da Geap, o fundo de pensão dos funcionários públicos federais. Segundo seu diretor-financeiro, Josemar dos Santos, a atual diretora-executiva, Regina Parisi, foi indicada pelo ex-ministro José Dirceu.