Título: Em PE, Justiça manda prender 5 líderes do MST
Autor: Monica Bernardes
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2006, Nacional, p. A7

Dois dias depois de receber da Polícia Civil de Pernambuco um pedido de prisão preventiva contra cinco integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST), o juiz substituto de Gameleira, Zona da Mata Sul do Estado, Antônio Carlos dos Santos, expediu ontem a ordem de captura contra os sem-terra, acusados pelos crimes de formação de quadrilha, incitação, apologia ao crime e desobediência legal, durante a ocupação do Engenho Pereira Grande (também em Gameleira), da Usina Estreliana, em novembro.

O clima é tenso entre as famílias acampadas na região. Dos cinco sem-terra indiciados, apenas Jaime Amorim está fora do Estado, em São Paulo. Os demais estão em local não divulgado, aguardando que os advogados do MST entrem com o pedido de relaxamento de prisão.

A decisão da Justiça pernambucana causou mal-estar no primeiro escalão do governo federal. O ouvidor-geral agrário, Gersino Silva, subordinado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário - que está em viagem ao Ceará -, teria se prontificado a ir ao Recife acompanhar o caso, mas foi desaconselhado por assessores do ministro Miguel Rossetto. A superintendente estadual do Incra em Pernambuco, Maria de Oliveira, responsabilizou a Justiça Federal pelo clima de tensão. Fontes ligadas ao ouvidor afirmam que a ordem de não entrar em confronto com a Justiça irritou Gersino, conhecido pela defesa dos direitos humanos.

"O Incra já havia solicitado a imissão de posse do Engenho Pereira Grande desde outubro, mas o processo continua parado na Justiça Federal. A ausência de uma decisão carrega a tensão e provoca reações como as vistas em novembro, quando os trabalhadores invadiram o local e promoveram um quebra-quebra. Não podemos olhar nenhum fato de forma isolada. Tudo tem uma causa e uma conseqüência", revelou Maria de Oliveira.

A superintendente fez ainda um alerta sobre a possibilidade de novos conflitos e os riscos para a população da área. "Há milhares de litros de material inflamável nos tanques da usina. Se os sem-terra tentarem entrar na usina poderemos ter um desastre gravíssimo", afirmou.

O pedido de prisão também repercutiu negativamente no Ministério Público pernambucano. O promotor José Edvaldo da Silva, responsável pela promotoria agrária, criticou o colega Hipólito Guedes, que acatou o pedido de prisão do delegado Antônio Câmara. Para Edvaldo, o inquérito deveria ir para a promotoria agrária.