Título: Uma rosa e dois pães para o presidente
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2006, Nacional, p. A4

Antes de subir no palanque, Lula toma café em casa de assentados

No Assentamento Terra Livre - que visitou antes de subir no palanque do Assentamento Nossa Senhora Aparecida -, Lula foi contemplado com uma rosa vermelha e um boné do MST, que levou à cabeça e em seguida deu a um menino que lhe ofereceu dois pães caseiros.

O casal Paes - Décio, de 50 anos, e Eva, 55 - o recebeu com carinho. Eles tocam 5 alqueires no Terra Livre há 2 anos. A casa simples é servida de água, luz e tem uma varanda, onde o presidente sentiu-se à vontade. "Plantamos de tudo, presidente", disse Décio, que elogiou os esforços de Lula, com uma ressalva. "A única diferença minha é que eu sou palmeirense." O Corinthians é a paixão de Lula.

O presidente tomou café, mas não aceitou o chocolate do menino que se aproximou timidamente. "Não posso comer doce, estou fazendo regime", esquivou-se.

Depois, Lula foi ao Nossa Senhora Aparecida, antiga Fazenda São Luiz, agora assentamento que acomoda 59 famílias, cerca de 250 pessoas. Foi recepcionado por uma orquestra infanto-juvenil de Castilho, ao som de Besame Mucho. Empolgou-se e tomou o violino de um adolescente, instrumento que fingiu tocar, posando para fotos.

José Rainha Júnior, líder do MST, fazia parte da claque. "Vim prestigiar", disse Rainha junto do filho, João Paulo, 12 anos, e do habeas-corpus que o mantém livre da prisão.

Já no palanque, Lula testemunhou a assinatura de convênio entre a Caixa Econômica Federal e o Incra prevendo liberação de linha de crédito habitacional de R$ 250 milhões. O dinheiro deverá ser empregado na reforma ou construção das casas nos assentamentos, inclusive com cisternas e fossas. A estimativa do Incra é que serão beneficiadas as famílias de 189 assentamentos em 74 municípios paulistas com renda mensal média de R$ 300. A maior parte dos assentamentos fica na região de Andradina e no Pontal.

Segundo o Incra, de 2003 a 2005 foram assentadas 3.462 famílias no Estado de São Paulo. Outras 2.110 aguardam apenas decisão judicial para se instalarem. Em todo o País, ainda de acordo com o Incra, foram assentadas 245 mil famílias no governo Lula, com investimento de R$ 2,73 bilhões para aquisição de terras. Com 22 assentamentos, a região de Andradina - onde nasceram o MST e os conflitos do campo - é prioritária na reforma agrária de Lula pela alta concentração de áreas improdutivas e passíveis de desapropriação.

Lourival Plácido de Paula, que subiu ao palanque de Lula em nome do MST, também atirou na Justiça ao pedir mais agilidade no processo de reforma no campo: "Temos 1.750 famílias esperando pelo assentamento e tem estoque de terra na Justiça Federal já decretada para desapropriação. Mas a Justiça Federal em Araçatuba e os desembargadores do tribunal (Tribunal Regional Federal) não querem dar a imissão de posse. Precisamos de ação política, senhor presidente, ou de lei que faça a reforma agrária brotar."