Título: Lula culpa Justiça e Alckmin por atraso na reforma agrária em SP
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2006, Nacional, p. A4

Em discurso para sem-terra, presidente também elogia Palocci, "um monumento de sinceridade e inteligência"

No Assentamento Nossa Senhora Aparecida, em Castilho - a 680 quilômetros a noroeste de São Paulo -, diante do vermelho das faixas do MST e dos trabalhadores do campo que sonham com um pedaço de terra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva jogou ontem nos ombros da Justiça pesada parcela de responsabilidade pelos desvios e pela lentidão de sua reforma agrária.

Ele também saiu em defesa do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "O Palocci é um monumento de sinceridade, de inteligência. Eu acho que quem assistiu saiu convencido de que o espetáculo que a CPI queria dar não aconteceu, porque o Palocci foi muito sincero, muito honesto e muito digno." E lamentou pela sorte do deputado Professor Luizinho (PT-SP), à beira da cassação. "Luizinho é uma figura digna e decente."

No palanque, Lula não perdeu a chance de cutucar o governador e presidenciável tucano Geraldo Alckmin. Sem citar o nome do governador, endossou enfaticamente a denúncia do presidente do Incra, Rolf Hackbart, de que o governo do Estado não teria utilizado R$ 29 milhões que saíram dos cofres da União para a reforma agrária.

A primeira parte de seu pronunciamento, o presidente reservou para atacar a Justiça: "Quando um processo chega na Justiça Federal, nem o presidente da República, nem o d. Demétrio (bispo de Jales), ninguém pode fazer nada", protestou. "Se você encontra um Poder Judiciário mais ágil, que funcione mais corretamente e que tenha boa vontade, pode andar. Se você encontra um daqueles que está entupido de processos às vezes uma coisa que leva seis meses leva seis anos. E nós não temos como fazer que seja diferente. De vez em quando a gente tem sorte, tem um juiz que facilita, que julga mais rapidamente, então a gente conquista as coisas."

Hackbart antecedeu Lula nos discursos. Foi ele quem apontou críticas para o Palácio dos Bandeirantes. "Além da parceria e convênios com os municípios, temos um convênio com o Itesp (Instituto de Terras do Estado). Já repassamos R$ 29 milhões desde 2003 e até hoje não conseguimos gastar esse dinheiro porque o governo do Estado não apresenta as áreas para o Incra."

Lula, em seguida, enfatizou: "Nós sabemos que poderíamos ter assentado mais 2 mil famílias nessa região, mas não assentamos porque a terra está na Justiça. Poderíamos ter assentado mais 5 mil famílias no Pontal e não assentamos porque o dinheiro que foi mandado para o instituto de São Paulo ainda não foi destinado para que a gente pudesse pagar áreas que podem ser desapropriadas e fazer os assentamentos."

Lula também defendeu a derrubada da verticalização nas coligações partidárias: "Eu nunca vi vantagem. Aliança política não é bigamia. Se as pessoas quiserem apoiar que apóiem. Não precisa ter um contrato. Vamos deixar as pessoas livres para escolher."