Título: Com a bênção dos orixás, o sucessor
Autor: Thiago Velloso
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2006, Nacional, p. A6

No aniversário de ACM Neto, avô confessa que ele não era seu favorito, mas se rendeu a seu talento político

Ainda com marcas no rosto deixadas por uma recente catapora, o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) chorou, com o avô, o senador Antônio Carlos Magalhães, na presença de cerca de 700 pessoas, ao comemorar seus 27 anos em ato político realizado na noite de quintafeira, no auditório de um hotel de Salvador. O choro numa noite de festa foi provocado pela lembrança da morte do deputado Luís Eduardo Magalhães, tio de ACM Neto.

A cada referência póstuma ao deputado, avô e neto se emocionavam e choravam juntos. 'ACM Neto tem se destacado e, nesses momentos, não nego que sempre me lembra Luís Eduardo, que foi, sem dúvida, muito da razão da minha vida', disse o senador. 'Nunca me senti obrigado a ser tão bom, a ter um desempenho tão expressivo quanto Luís Eduardo, mas me senti obrigado a atenuar um pouco a dor do sofrimento do senador Antônio Carlos Magalhães', afirmou ACM Neto.

Foi um aniversário tipicamente baiano. Música sacra se misturou com samba.

Candomblé com o trabalho católico da herdeira de irmã Dulce, sua sobrinha Maria Rita Pontes. Vinte e um componentes do afoxé Filhos de Gandhi se juntaram a baianas vestidas com trajes típicos. A mãe-de-santo do Ilê Axé Araká Togun, Sandra Monteiro, presenteou o deputado, em nome da Associação Brasileira de Preservação Cultural Afro-Ameríndia, com uma guia de Oxaguian, regente do ano de 2006. ACM Neto ainda recebeu homenagens de idosos, deficientes físicos e universitários.

Foi também um ensaio de transferência de poder. ACM, que desde a morte de Luís Eduardo apostava suas fichas políticas no neto Luís Eduardo Magalhães Filho, rendeuse finalmente à vocação política demonstrada por ACM Neto na CPI dos Correios e já transmite aos liderados sinais de que finalmente encontrou um sucessor. 'Eu vou confessar: ele não era meu neto favorito, mas devo dizer que mostrou talento e dedicação para a política', disse a um interlocutor. O líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN), em tom de brincadeira, provocou risos: 'O ACM Neto já compete com o senador Antônio Carlos Magalhães.' Ao discursar, ACM Neto deu um susto na platéia ao seguir um roteiro de agradecimentos familiares. Tudo porque, em vez de citar o avô em primeiro lugar, agradeceu aos pais pela formação de seu caráter e de sua personalidade. A presença de ACM é tão forte que se esperava que o neto iniciasse sua fala com elogios ao avô. Como se conhecesse o genoma do neto, ACM esperou. Foi citado em um agradecimento genérico.

'Tive o privilégio de conviver com meus quatro avós'' disse citando de passagem os nomes dos avós.

A platéia começou a inquietar-se. Afinal, quando o avô político seria finalmente citado com a ênfase que todos os carlistas desejavam? Somente o velho senador parecia adivinhar. E no final, depois de um certo suspense, ACM Neto desfiou elogios ao chefe da política baiana. 'Vou estar com 90 ou 100 anos e ainda vou dizer: sou neto de ACM', disse batendo a mão no peito e arrancando aplausos.