Título: Serra espera março; Alckmin apóia a si próprio
Autor: Thiago Velloso
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2006, Nacional, p. A6

Mesmo após ter a pré-candidatura lançada por Tasso, prefeito se recusa a falar do assunto; governador não recua: "Vou apoiar o Geraldo Alckmin"

Um dia depois de ter sido lançado como pré-candidato à Presidência pelo presidente nacional do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE), o prefeito José Serra preferiu manter sua estratégia. Não quis comentar as declarações de Tasso e se recusou a falar da possibilidade de deixar a Prefeitura para assumir a pré-candidatura presidencial. Seu rival na disputa interna do partido para a escolha do nome para disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, acusou o golpe. Ao ser indagado ontem se subiria no palanque de Serra, caso seja ele o escolhido pelo partido, o governador Geraldo Alckmin reforçou: "Eu vou apoiar o Geraldo Alckmin."

O governador tentou amenizar o impacto da reunião da véspera entre os líderes tucanos. Disse que o encontro foi positivo, porque mostra que o partido, caso tenha mais de um candidato, vai amadurecer sua posição e decidir até março o nome de quem vai disputar o Planalto.

Alckmin disse que não há razão para o PSDB antecipar a escolha e, embora o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tenha sugerido que a população é quem vai decidir o melhor nome, não vai mudar sua estratégia. Na próxima semana, ele retoma a visita aos Estados.

PESQUISAS

Já Serra continua a esconder o jogo. Ontem se limitou a dizer que seu nome tem sido colocado entre os possíveis candidatos por conta dos bons resultados quem tem obtido nas pesquisas, mas isso não significa que vá disputar a eleição.

"Aparecer na frente, inclusive do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no plano nacional, é algo, como já disse muitas vezes, gratificante. Muita gente, em função disso, deseja que eu seja candidato e, por isso, meu nome tem sido colocado", afirmou Serra. "Outra questão é entre a pesquisa eleitoral e a candidatura e, sobre isso, neste momento não tenho nada a declarar ou a esclarecer."

As declarações do prefeito foram dadas durante tumultuada inauguração de duas escolas na favela Parque Novo Mundo, na zona norte de São Paulo. Seu discurso na solenidade foi interrompido algumas vezes por protestos de manifestantes, que pediam melhores condições de moradia, em vez de novas escolas.

Na confusão, duas pessoas tomaram um microfone. Uma mulher, de nome Sheila, e o presidente do Conselho Comunitário de Segurança da região, Cândido Serpa. Enquanto ela gritava por moradia, o líder comunitário lançava o prefeito à Presidência, Alckmin ao Senado e Fernando Henrique ao governo do Estado, constrangendo, assim, o prefeito e demais políticos presentes.

Depois, Serra disse que considerava legítimos os protestos dos moradores da favela, mas avaliava que a acalorada manifestação "provavelmente foi organizada pelo PT". Indagado se a manifestação tinha um cunho político-partidário, o prefeito respondeu: "Certamente teve, mas não diria que as pessoas estão aqui por conta disso."