Título: Erez separa progresso de atraso
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2006, Internacional, p. A9

Entrar no território palestino da Faixa de Gaza, via posto de controle de Erez, em Israel, é como atravessar a fronteira de dois mundos, de duas épocas. No lado israelense está o desenvolvimento e todas as conexões com o mundo globalizado. No lado palestino, ainda que não haja miséria, a pobreza se generaliza e toma conta de ruas, casas, fachadas e pessoas.

De um lado, o de Israel, está o século em que vivemos com suas oportunidades tecnológicas. Do outro, o palestino, o subdesenvolvimento do início do século passado e o confinamento na pobreza. O corredor que separa os dois é o momento de transição. A travessia de menos de cinco minutos cheira a urina e medo. Nas duas pontas, a israelense e a palestina, soldados armados não disfarçam a tensão. Quem atravessa o faz de forma silenciosa. São em sua grande maioria trabalhadores palestinos que precisam ganhar a vida em Israel

Israel é um país, tem mais de cinco décadas de história e uma economia dinâmica. A Faixa de Gaza não é um Estado, a grande maioria da sua população é de refugiados e a economia é paupérrima. Ainda assim, a qualidade de vida dos palestinos de Gaza poderia ser melhor se o dinheiro vindo de ONGs, da UE, dos EUA e da arrecadação de impostos repassados por Israel fosse aplicado corretamente.

As acusações de corrupção no governo da Fatah são uma das causas da ascensão do Hamas. Na Faixa de Gaza, falta luz, calçamento de ruas e edificação de hospitais e escolas. "A situação está muito difícil. Escolhemos o Hamas porque queremos mudanças", resume o palestino Hesham Abu Hellal, de 55 anos.