Título: Na despedida de Greenspan, juro sobe mais 0,25 nos EUA
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2006, Economia & Negócios, p. B1

Na última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sob seu comando, Alan Greenspan aumentou os juros de curto prazo dos Estados Unidos, deixou a porta aberta para novas altas e se despediu. O Comitê do Mercado Aberto (Fomc) do Fed aumentou a taxa em 0,25 ponto porcentual, levando-a para 4,5% ao ano, a maior desde maio de 2001. "Embora dados econômicos recentes tenham sido desiguais, a expansão na atividade econômica parece sólida, o núcleo da inflação se manteve relativamente baixo nos últimos meses e as expectativas sobre a inflação no prazo mais longo continuaram contidas", justificaram os membros do Fomc num comunicado.

Eles ressaltaram, porém, que "apesar disso, possíveis elevações na utilização dos recursos, assim como os preços elevados da energia, têm potencial para aumentar as pressões inflacionárias".

E o comunicado concluiu: "O Comitê julga que algum aperto adicional da política monetária poderá ser necessário para manter aproximadamente equilibrados os riscos ao cumprimento do crescimento econômico sustentável e da estabilidade dos preços. Em qualquer eventualidade, o Comitê vai reagir a mudanças nas perspectivas econômicas à medida que isso seja necessário para promover aqueles objetivos."

O texto é praticamente idêntico ao divulgado após a reunião de dezembro. Mas há uma mudança que tem chamado a atenção dos analistas. Na última reunião do ano passado se disse que novos aumentos eram "prováveis". Ontem, o termo utilizado foi "poderá ser necessário".

Essa modificação, dizem economistas, é para dar mais liberdade de ação para o novo presidente, Ben Bernanke. "Eles deram um quadro em branco para Bernanke e em março vão revisar os indicadores", disse um estrategista de câmbio do National Australia Bank em Nova York, Michael Jansen. Grande parte dos analistas acredita que os juros ainda vão subir 0,25 ponto na reunião de 28 de março. A grande dúvida é o que acorrerá no decorrer do ano.

O crescimento de só 1,1% do PIB no quarto trimestre de 2005, o menor em três anos e bem abaixo das previsões, está preocupando analistas, que se perguntam se o Fed não teria apertado o cinto demais. "Sem dúvida, o resultado do PIB está enturvando as águas, disse o economista-chefe do TD Bank, Derek Burleton.

Apesar de a reunião de ontem marcar a saída de Greenspan da presidência, cargo que ocupou por mais de 18 anos, não houve nenhuma grande comemoração. Discreto como sempre, ele participou de um almoço em sua homenagem no Fed.

SUCESSÃO

Praticamente por unanimidade, o Senado confirmou ontem o economista Ben Bernanke como sucessor de Greenspan na presidência do Fed. A indicação foi do presidente George W. Bush. O resultado já era esperado, pois tanto o Partido Republicano e o Democrata o apoiavam.

O único senador que não votou pela aprovação foi o republicano Jim Bunning. Ele alegou que Bernanke não terá independência suficiente da Casa Branca.