Título: Início de ano é o mais fraco desde 99
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2006, Economia & Negócios, p. B4

A demanda da indústria iniciou 2006 no nível mais fraco em sete anos, segundo a Sondagem Industrial da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada ontem. Os resultados apontam para o desaquecimento da atividade e a insatisfação do empresariado. Para o trimestre, as expectativas para exportações e emprego também estão mais fracas que em anos anteriores.

Os dados mostraram que o resultado da pergunta sobre a avaliação da demanda atual foi o pior para o mes de janeiro desde 1999, período marcado pela crise cambial. O saldo (diferença entre respostas positivas e negativas) ficou em 15 pontos negativos. Só 8% das indústrias informaram que a demanda está forte, menor parcela desde janeiro de 2000. Outros 23% responderam que está fraca.

"A política monetária provocou a desaceleração. As expectativas (para os próximos três meses) são ainda muito modestas, mas não incompatíveis com a retomada do crescimento", comentou o coordenador da pesquisa, Aloísio Campelo Jr.

Depois de citar que a política monetária está virando, com a redução dos juros, Campelo Jr. observou que o setor industrial passa por uma transição e as expectativas podem ter chegado ao fundo do poço.

A fraca demanda foi apontada por 28% das empresas como um dos principais limitadores da expansão da produção, maior nível desde outubro de 2003 (40%). Um dos poucos dados favoráveis da sondagem foi a estabilização do ajuste de estoques. Segundo a FGV, a produção industrial desacelera desde meados de 2005. A pesquisa mostra que os estoques estão chegando a níveis normais.

FALTA INVESTIMENTO

Apesar do fraco desempenho, o uso da capacidade instalada em janeiro (84,5%, com ajuste sazonal) ficou pouco abaixo do de janeiro de 2005 (84,8%), mas pouco superior ao de outubro (84,3%). Isso reflete baixo nível de investimento. "É falta de investimento, que não foi feito porque os empresários sabiam que o ciclo de aperto monetário ia ser longo", diz o economista da FGV, Samuel Pessôa.

A utilização da capacidade nas indústrias de bens de capital, que produzem máquinas usadas em projetos de investimento, encolheu progressivamente desde janeiro de 2005, de 84,1% para os atuais 77,9%. Além de baixa demanda interna, o movimento pode estar associado à importação de equipamentos, lembra Campelo. No setor de material de construção civil, houve recuo de 84,3% para 80,9% na mesma comparação.

De forma geral, Pessôa acredita que a economia está mais previsível e a política monetária foi acertada. "O baixo crescimento não tem nada a ver com o Banco Central", disse Pessôa. Para ele, o crescimento "medíocre" está ligado à microeconomia e aos gastos públicos elevados, que exigem carga tributária alta. Ele criticou o superávit primário, feito, segundo ele, com o aumento da carga, o que prejudica os investimentos.

A sondagem também mostra que a parcela de empresas que prevê redução da demanda externa (26%) é a maior desde outubro de 2001. De janeiro de 2004 para o início deste ano, a fatia prevendo aumento de demanda encolheu de 44% para 29%. Um dos motivos é a valorização do real. Para a demanda interna, houve ligeira melhora.

Como detectado na prévia da sondagem, no mês passado, as perspectiva para emprego industrial são as piores desde janeiro do ano 2000: 27% prevêem redução de mão-de-obra e 16%, aumento.