Título: Emissoras se desentendem sobre sistema japonês
Autor: Renato Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2006, Economia & Negócios, p. B10

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse semana passada que todas as emissoras, e não só a Globo, querem o sistema japonês ISDB, criado para transmitir vídeo para celulares no próprio canal de televisão, sem passar pela operadora de telecomunicações. Na sexta-feira, uma carta da Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra), que reúne Bandeirantes, SBT e Rede TV!, desmentiu o ministro. "A Abra esclarece que não tem preferência por nenhum dos sistemas de transmissão", informou a associação, para quem o sistema japonês não seria o melhor, ao se levar em conta a necessidade de o País optar por "tecnologias iguais às adotadas em mercados suficientemente grandes para garantir economia de escala com contínua redução de preço".

Acontece que, depois de divulgada a carta, o SBT discordou de seu conteúdo, afirmando que não representava a visão da Abra, que exige consenso de todos os seus integrantes. "O SBT não participou da reunião", afirmou Guilherme Stoliar, diretor de Rede do SBT. "Dos três sistemas, somente o japonês atende às necessidades das emissoras brasileiras."

Para Stoliar, é uma "bobagem" envolver várias autoridades do governo na discussão sobre TV digital. "Do meu ponto de vista, os radiodifusores deveriam discutir o assunto no máximo com o ministro das Comunicações", explicou Stoliar. "As operadoras de telecomunicações não têm nada a ver com isso. Os fabricantes de aparelhos de TV vão se beneficiar de qualquer jeito, porque vão ter que repor pelo menos 60 milhões de aparelhos."

O diretor do SBT disse que as emissoras são as únicas que perdem com a transição. "Vamos ter que atualizar 8 mil pontos de transmissão, que são 400 emissoras geradoras e 7,6 mil retransmissoras", destacou Stoliar. "E o mercado publicitário não vai pagar um tostão a mais por isso."

Apesar de seu sistema ter sido criado para transmitir o sinal para celulares no canal, ainda não existe operação comercial desse tipo no Japão. Os europeus dizem que seu DVB já consegue fazer o mesmo. Os americanos demonstrar um sistema próprio em meados deste ano. "Não estamos muito atrás em mobilidade", afirmou Robert Graves, presidente do Fórum ATSC.