Título: Quebra da produção muda rumo de quem vive da terra
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

No Norte do Paraná, estiagem derruba produtividade da lavoura de soja e sobrecarrega custos do plantio

O agricultor Luiz Roberto Perin, de 40 anos, está disposto a vender parte de suas máquinas agrícolas para quitar a dívida de R$ 40 mil pendente de safras passadas com o Banco do Brasil e a cooperativa de crédito da região. Desanimado com a seca que afetou metade dos 68 alqueires semeados com soja em Maringá, norte do Paraná, este ano, ele diz que o que deve conseguir com a venda da safra não vai cobrir o que gastou para produzir.

¿Esperava uma produtividade de 120 sacas de soja por alqueire¿, diz o agricultor. Mas, depois de 21 dias de sol, sem chuvas, ele acredita que vai conseguir entre 60 a 70 sacas. Esse rendimento não cobre o custo de produção, diz o agricultor.

Ao preço de R$ 26 a saca de soja de 60 quilos, Perin desembolsou o equivalente a 85 sacas de soja por alqueire para semear a terra. ¿Nasci na agricultura, mas acho que depois dessa safra vou mexer com outra coisa, talvez com transportes¿, diz Perin.

Ele explica que, em outros anos, o preço compensador da soja, que chegou a R$ 50 por saca, cobria as altas dos custos de produção e as perdas provocadas pelo clima, como seca ou excesso de chuvas. ¿Neste ano vou ficar mais endividado¿, prevê o produtor.

Na opinião de Perin, a crise pela qual passa hoje a agricultura de grãos é a pior já vista. ¿A seca está detonando a agricultura por três anos seguidos e o governo não olha para os produtores¿, reclama.

A reclamação de Perin ganha força quando se junta à de representantes do setor, como o presidente da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), Antonio Chavaglia. Ele diz que o setor responde por US$ 34 bilhões da balança comercial e não obtém nenhum benefício do governo.

Chavaglia cita como exemplo o seguro agrícola. ¿O seguro agrícola foi criado, mas o lastro foi tão baixo que mal banca a agricultura familiar¿, observa. A saída para o agricultor atenuar a crise, segundo ele, é a venda de máquinas agrícolas. ¿Muitos agricultores de Mato Grosso vão devolver tratores.¿

O impacto da crise enfrentada hoje pelos agricultores de grãos não deve ficar restrito à safra de verão, que começa a ser colhida no Centro-Sul a partir do mês que vem. Perin, por exemplo, diz que vai cortar pela metade a área plantada com milho da safrinha, que é semeado logo após a colheita de verão. ¿Trigo eu já não planto mais.¿

Perin não é o único produtor que pensa dessa forma. Segundo Antonio Sacoman, coordenador-técnico da Cocamar, Cooperativa Agroindustrial de Maringá (PR), neste momento os produtores rurais ainda não decidiram o que vão plantar depois da colheita da safra de verão. ¿Eles não decidiram quanto vão semear de milho na safrinha nem como será o plantio de trigo, que é a safra de inverno.¿

Na opinião do agrônomo, o comportamento do agricultor para as próximas safras de grãos deste ano vai depender de como os preços das commodities vão reagir daqui para frente. ¿Pode ser que o preço do milho venha a ter alguma alta.¿ A cotação da saca do grão, de 60 quilos, estava no ano passado em R$ 12,50, no Paraná. Hoje, a mesma quantidade produto sai por R$ 11,50.